5 lições do esporte para líderes e gestores de pessoas

O mundo dos esportes está repleto de lições que podem nos tornar líderes e gestores mais eficazes, tanto na vida profissional, quanto pessoal e familiar. Com isso em mente, César Souza, fundador e presidente do Grupo Empreenda, expert em liderança, cultura, clientividade e empreendedorismo, e o jornalista Maurício Barros, atualmente comentarista do canal de TV BandSports, observaram muito a prática no ambiente esportivo para conceber uma proposta de comportamento e de atitude, uma espécie de check list para levar as pessoas a aumentarem a eficácia como líderes, profissionais e seres humanos.

A proposta virou um livro, prestes a ser lançado, e foi tema do webinar “Descubra o craque que há em você – 5 lições do esporte para liderança e gestão de pessoas”, realizado pela ABRH-SP no último dia 23. Com a mediação do presidente da ABRH-SP, Guilherme Cavalieri, César e Maurício falaram sobre o conteúdo da proposta e do livro. Confira, a seguir, algumas das principais reflexões:

Contexto Atual

César deu início ao webinar falando do contexto atual. Para ele, vivemos um momento de incertezas acelerado pela pandemia, que criou uma das mais dramáticas crises das nossas vidas. Entretanto, o novo coronavírus não veio sozinho, não é o vilão de toda essa situação.

Como ele explicou, já havia sinais de nuvens carregadas no horizonte empresarial: problemas graves acontecendo na produção e comércio de petróleo; na disputa entre Estados Unidos e China; bolsas de valores infladas… Somam-se a isso uma assimetria muito grande entre os países, a polarização ideológica, a crise de confiança nas instituições de modo geral e a disrupção tecnológica. Em algum momento, essa conta iria chegar.

A Covid-19, na avaliação de César, é como se fosse uma ventania que passou no horizonte empresarial já com nuvens bastante carregadas. Quando uma ventania passa em nuvens carregadas, ela precipita na forma de tempestade. Mas se foi tempestade para alguns, para outros foi bonança – áreas de telemedicina, de empresas de alimentação e entretenimento, educação digital, fintechs, e-commerce, embalagens de papelão, entre outras.

 

Impactos na liderança e gestão de pessoas

“Nenhuma transformação tem sido tão intensa como na liderança. Os líderes exuberantes na época da abundância parecem meio perdidos hoje em momento de escassez. Até os liderados por eles acham que falta coragem, pragmatismo, assertividade. Na hora da crise, o líder tem de ser protagonista, ele é pago para isso”, refletiu César. “E essa crise tem mostrado que muitos líderes não estavam preparados para esse momento de decisão, continuam apegados a dogmas, princípios e práticas de uma realidade que não existe mais. Permanecem dirigindo a empresa olhando pelo retrovisor. A gente precisa se reinventar”, enfatizou.

 

Dica de ouro para o RH

Para César, a dica número para o profissional de RH é não se esconder nessa hora. Ao contrário, assumir o protagonismo, questionar e desempenhar um papel relevante. Com os escritórios e fábricas vazios, ficou evidente que o mais importante é o ser humano. É ele quem move tudo. Portanto, é hora de o RH se posicionar com clareza e estimular o seu líder a fazer a virada que tem que ser feita na organização.

“Minha dica de ouro é: aperte a tecla reset na sua vida, carreira, empresa. Descubra o craque que há em você. Não tente abrir as portas do futuro com as chaves do passado”, disse César.

As cinco alavancas

César falou das 5 atitudes que, se bem desenvolvidas, podem conduzir o profissional ou a empresa ao topo:

Integração: Empresas com baixo nível de integração não fidelizam pessoas nem clientes. A falta de integração leva a custos altos e à baixa produtividade.

Superação: A pandemia evidenciou a enorme capacidade de superação de algumas pessoas. Entretanto, enquanto algumas se reinventaram, outras se deprimiram. O papel do líder é incentivar aqueles que se reinventaram e cuidar daqueles que se deprimiram. “Mas o que mais preocupa são os mornos, o grande contingente que fica parado nas empresas, que não reage, não aprende. Aqueles que perderam os 180 dias de sua vida na pandemia, sem fazer nada de diferente”, alertou César.

Inovação: Alavanca para ter sucesso no futuro. Muitas empresas se dizem inovadoras, mas quando você pergunta o percentual de receita da sua empresa gerado por produtos e serviços criados nos últimos cinco anos, esse porcentual é baixíssimo. “Nós não somos inovadores, somos criativos. Muita gente confunde criatividade com inovação. Existem três critérios básicos para avaliar a inovação: sua ideia aumenta a receita? Sua ideia diminui custos? Vai mitigar algum risco que a empresa passa?”, ensinou César.

Determinação: Disciplina, coragem, muito foco. Colocar a faca nos dentes, se entregar de corpo e alma, buscar um nível de dedicação e empenho muito grande.

Autogestão: Está no centro de tudo. É o calcanhar de aquiles dos líderes. “Quando vejo os líderes que fracassam”, ponderou César, “não é porque não entregaram resultados, mas porque tiveram um nível de autogestão muito baixo. É onde eles perdem o jogo ou a vida. É onde perdem a saúde, destroem a família, mentem, são incoerentes, têm baixa inteligência emocional.”

 

Exemplos do esporte

Na sua apresentação, Maurício falou do mapa de fatores determinantes para o sucesso. Segundo ele, fica evidente a força do esporte como metáfora, como um universo privilegiado para as pessoas refletirem sobre a natureza humana e seus desafios de forma prática, lúdica e apaixonante. “Nossa proposta é a pessoa criar um check list para descobrir o craque que tem dentro de si, utilizando suas habilidades e corrigindo suas eventuais dificuldades.”

Ao falar de integração, ele deu como exemplo o da seleção feminina de basquete, que tinha duas incríveis jogadoras entre as melhores da história: Magic Paula e a Rainha Hortência. Durante muitos anos foi difícil elas conversarem por causa da rivalidade, mas elas precisaram de 14 horas de voo sentadas lado a lado, em 1986, para lavar a roupa suja do que acontecia na seleção brasileira. Conseguiram chegar ao consenso de que se não fizessem alguma coisa para integrar a equipe, começando por elas, os resultados continuariam a ser ridículos. A partir do retorno dessa viagem, ambas mudaram de atitude e conseguiram influenciar as suas influenciadas. Foi aí que o Brasil conquistou seus maiores títulos na modalidade: o campeonato mundial em 1994 e a medalha de prata na Olimpíada de Atlanta, em 1996.

Exemplo clássico e consagrado de determinação, de acordo com Maurício, é o de Maya Gabeira, surfista brasileira de ondas gigantes. O que pode ser mais traumatizante que estar diante da morte, em uma situação de perigo extremo? Depois do acidente em que quase morreu na praia de Nazaré, em Portugal, no ano de 2013, Maya bateu duas vezes o recorde mundial – o último deles recentemente. “O que a levou a superar tudo isso foi a vontade de continuar vivendo a vida que ela adorava, entrando no mar e desafiando os limites. Ela não se via fazendo outra coisa. E daí se preparou muito mais para encarar de novo as ondas”, contou Maurício.

No campo da inovação, ele citou Dick Fosbury, atleta dos Estados Unidos que, graças ao seu conhecimento de física, revolucionou o salto em altura ao inventar a técnica de saltar de costas, que mudou a história da modalidade e se tornou a mais popular entre os competidores. Fosbury foi medalha de ouro em 1968 nas Olimpíadas do México.

Poucas coisas podem ferir um atleta quanto a acusação de trapaça e foi o que viveu o nadador brasileiro César Cielo, recordista mundial das duas provas mais rápidas da natação – 50 e 100 metros nado livre. Cielo teve que ter muita determinação para dar a volta por cima depois da acusação de doping em 2011.

Por último, Maurício falou do tenista Gustavo Kuerten como exemplo de autogestão, que nada mais é que a capacidade de ser líder de si mesmo. “Guga sempre mostrou que os valores são fundamentais na construção de uma reputação”, ressaltou Maurício.

ABRH-SP

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