A transformação digital no centro de tudo

Realizada com grande sucesso pela ABRH-SP no final de novembro, a Semana da Transformação Digital teve a participação do jornalista e apresentador Marcelo Tas no webinar de encerramento. Em um bate-papo com Guilherme Cavalieri e Janine Goulart, respectivamente presidente e diretora de Inovação da ABRH-SP, ele falou sobre o tema “A transformação digital no centro de tudo”. Confira a seguir:

Lente de aumento

“A pandemia funciona como uma lente de aumento. Temas que já eram falados há muito tempo agora estão escancarados na nossa frente. Desde a virada do milênio falamos de transformação digital. Agora, não é mais opcional, é uma realidade e, sobretudo, uma necessidade. Trata-se de um momento de grandes oportunidades de ação. Podem esquecer aquele negócio de voltar ao novo normal. Gosto de provocar dizendo que é o novo anormal, porque vamos voltar para uma situação muito diferente e que vai exigir de cada um de nós estratégias, mentalidade, educação corporativa sem parar para fazer o que é preciso: atender às pessoas.”

Desafios do trabalho remoto

“O grande desafio desse momento é a mentalidade. Manter a saúde mental e preparar a mentalidade para essa nova realidade. É um desafio extremamente humano. Quando a gente fala de transformação digital, imaginamos técnicas, máquinas, softwares, Inteligência Artificial. É óbvio que o conhecimento técnico é muito importante, mas não é suficiente. O que é muito necessário é uma convergência de colaboração, técnica e humanidades até um ponto em que elas vão se misturar, mas o desafio é a saúde mental. Termos discernimento diante de uma pressão tão grande e inédita na história. Entretanto, vejo oportunidades de crescimento profissional, individual e até espiritual. É um momento muito importante de amadurecimento.”

Engajamento é tudo

“Para as empresas, o importante é ter atenção ao engajamento, que é diferente de comunicar. Quando você se engaja numa mensagem ou prática, é diferente de receber uma comunicação. Comunicação não é o que você fala, mas o que o outro ouve e entende, e você tem de ir atrás do que o outro entende ouvindo, principalmente críticas e sugestões. Ouvir com discernimento, conversar com a equipe, desenhar as estratégias, modificar produtos e serviços, e perceber o resultado do aperfeiçoamento feito. Engajamento diz respeito a ter um diálogo permanente tanto dentro com os colaboradores, como fora com o cliente. Significa falar, ouvir e melhorar os processos através desse diálogo. Não é fácil. É uma tarefa linda e única. O engajamento é uma corda que tem de sempre estar sendo cuidada para que a tensão nem esteja muito esticada, nem muito solta. Muito esticada significa que você vai conversar com o seu cliente só quando tiver problema ou crise. Solta significa que você relaxou, deixou correr frouxo e ele encontrou outro alguém. O engajamento é manter a corda numa tensão eficiente de comunicação. Todo dia, olhar como estão as coisas, se elas estão indo bem. Isso vale também para as equipes internas.”

 

Modelo híbrido

“Tenho observado a tentação de algumas empresas de voltar para o ambiente de trabalho do jeito que era antes. Acho uma armadilha perigosíssima, uma pista falsa. O desafio proposto é um novo desenho, que certamente será híbrido, mas o grau de quanto híbrido depende de cada empresa. Na pandemia foram descobertos muitos desperdícios: tempo gasto com viagem de avião, com reunião sem importância – nunca entendi por que se faz tanta reunião. Uma sugestão para o híbrido é: quando marcar uma reunião, tem de ser muito legal, principalmente as presenciais. Para muitas empresas tem sido um enorme sacrifício, mas muitas outras continuam funcionando sem aquele monte de reunião, aqueles deslocamentos pela cidade. A reunião presencial é importante, mas não pode ser banalizada como era antes. Por isso, sugiro que, quando começarmos a voltar, que esses encontros sejam qualificados. Também é hora de praticarmos outra palavra muito usada: sustentabilidade. Desperdiçar menos, enxugar os processos, ver o que é realmente essencial. O desenho desse mundo híbrido é um momento muito criativo para todas as equipes e os colaboradores.”

A força da colaboração

“Só vamos avançar especialmente em um cenário de escassez, que é o que está agora no nosso horizonte, em 2021, com colaboração. Não há salvação única, não tem como as empresas se blindarem. Já estávamos vivendo um universo de grande força das mídias sociais, de valorização da voz do consumidor e isso só vai avançar em vários níveis. Gosto muito de olhar para a metade do copo cheio no engajamento de mídia social. A oportunidade que todas as pessoas e empresas têm de melhorar o que fazem através dos olhos do melhor consultor: a pessoa que você atende.”

Trabalho automático

“As ferramentas digitais têm uma capacidade muito grande de fazer o trabalho automático. O trabalho automático feito antes por você tem gente que faz melhor, mais barato e com mais eficiência. Entretanto, elas só tiram trabalho de quem trabalha no modo automático. Se você não quer ser substituído por um robô, não trabalhe como um. Precisamos ter o discernimento para saber até que ponto as ferramentas dão conta de tarefas e qual o momento que deve entrar o talento humano. Para cada cliente, esse momento pode ser diferente. Temos de saber o que fazer com os dados, com qualidade.”

De bem com as mídias sociais

“Rede social é algo que você tem de olhar com distanciamento, mas é uma excelente oportunidade. Muita gente vai falar coisas que você precisa ouvir. O CQC [Custe o Que Custar, programa humorístico de televisão exibido entre 2008 e 2015], por exemplo, foi um programa muito desenhado ouvindo o resultado do engajamento com as redes, ouvindo de verdade. Também tem de observar as ervas daninhas, os haters. Guardar numa pastinha do computador e olhá-los com muita empatia e compaixão, sabendo inclusive dialogar com eles. Dialogar com o hater é uma necessidade muito importante de todas as empresas. Existe também uma demonização das redes sociais. Nós temos que questionar as plataformas todas, mas não podemos ignorar que o nosso cliente e o nosso colaborador vivem usando as redes sociais e elas se proliferam em outras direções. O mundo das redes sociais é fascinante, difícil, mas absolutamente necessário.”

Espiritualidade

“Ter uma vida espiritual é importante. Não estou falando de religião, mas de um momento que você tem para cuidar da saúde mental. Quando falo de espiritualidade, é reservar um momento do dia que não seja nem do home office, nem da família. Um terceiro momento só seu, de paz na mente, seja para ouvir música, seja para cuidar das plantas, ou meditar, prática que comprovadamente melhora a saúde mental, a capacidade de trabalho, a empatia e o relacionamento. Esses três momentos precisam ser sinalizados. Ao criar esses blocos – estou trabalhando, estou com a minha família ou estou comigo mesmo –, você toma as rédeas da crise que vivemos, está respondendo a ela e colaborando para esse ecossistema de pessoas ao redor, que começa na família, chega à empresa e aonde importa, que é fazermos um país mais justo, mais próspero e com oportunidades iguais para todos.”

Fonte: Assessoria de Comunicação ABRH-SP (07 de Dezembro de 2020)

ABRH-SP

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