Coworking de programação é uma das muitas faces do desenvolvimento guiado por CT&I

Startups unidas em torno de inovação e negócios em um só espaço físico são a cara da nova economia que vem ganhando espaço em Alagoas

Você já viu, na matéria anterior desta série, que algumas startups acabam descobrindo novas possibilidades uma vez que começam a trilhar o caminho do mercado e suas conexões. A alagoana Fábrica de Bots segue mais ou menos esse caminho. Seus empreendedores digitais descobriram uma nova oportunidade de negócios baseada em um antigo ditado popular: unidos venceremos.

“A ideia veio da participação no Projeto de Startups do Sebrae. Todos que estão lá tem as mesmas necessidades: precisam de desenvolvedores, de designer para criar uma arte, alguém para registrar uma marca, etc., tudo voltado para soluções de um negócio inovador. Então, pensamos em uma estrutura para ajudar os outros e compartilhar recursos.”, explicou Medson Maia, que pôs a ideia em prática ao lado dos sócios Gesyca Santos e Marsh Domarques.
Foi assim que surgiu a i9 Colab, um espaço para aceleração de negócios inovadores. Como todo bom negócio de tecnologia, surgiu inicialmente em uma garagem, depois reformada e expandida para outros cômodos de um imóvel no bairro de Cruz das Almas, perto da praia e com todos os elementos para instalação de outras startups (wifi, salas de reunião, computadores) e muita gente interessada em inovação para trocar ideias. Por lá, estão a Fábrica de Bots, a Zero Time, as iniciativas da H3 (startups Plantões do Brasil, Acha Médico, Psiqonline) e a estratégia de presença digital da Associação Para Mulheres (AME).

Colaboração é a palavra-chave no ecossistema de startups ao redor do mundo, e não apenas entre as empresas em si. No estado de Alagoas, onde o ambiente de negócios digitais é chamado Sururu Valley – nosso mais popular marisco parafraseando o Vale do Silício americano –, um trabalho coordenado de investimento em inovação por meio de editais de pesquisa e a orientação gerencial para pequenos empreendimentos de tecnologia têm sido conduzidos por órgãos públicos e entidades privadas. Por isso que ideias como a Fábrica de Bots encontraram não só espaço para florescer, mas parceiros para trilhar outros caminhos.

Respostas inteligentes

Chatbots são respostas automatizadas para atendimento ao público via chat, construídas a partir de inteligência artificial. É isso o que a Fábrica de Bots vende: a ideia em tração que a levou ao Projeto de Startups do Sebrae no ano de 2017.

Ideia, inclusive, que já alçou a Ilhasoft – startup atendida pelo Sebrae nos primeiros anos de projeto – ao posto de fornecedora para o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Essa vitória veio em 2017, quando, já no patamar de empresa, a alagoana foi umas das três únicas em todo o mundo a receber recursos do Fundo de Inovação da Unicef, serviço que referendou o trabalho dos alagoanos diante de clientes internacionais.

Em 2018, os sócios-fundadores da Ilhasoft, Leandro Neves e John Cordeiro, foram a Nova York para um workshop da própria Unicef apresentar o Bothub, um sistema que quer, em cinco anos, tornar-se o maior e melhor sistema aberto de processamento de linguagem natural do mundo. Atualmente, com sete anos de presença no mercado, a Ilhasoft é uma consolidada empresa desenvolvedora de produtos digitais sediada em Maceió e com clientes em 22 países.

Claro que o sucesso dos conterrâneos inspira a desenvolver ainda mais o software e a Fábrica de Bots, mas essa é a beleza do mundo digital: às vezes, os caminhos conduzem a oportunidades que não eram sequer imaginadas. Foi nas reuniões mensais que Medson, Gesyca e Marsh conheceram André Braga, que já compartilhava com o colega Hugo Tenório, da H3, as dificuldades de conseguir um bom desenvolvedor para dar a atenção necessária à Zero Time, um aplicativo de marcação de consultas para garantir agilidade nos agendamentos tanto para o consultório quanto para o paciente.

Foi esse mix de informações e possibilidades que ajudou os três sócios a abrirem os olhos para a oportunidade de fundar a i9 Colab. Não só como um espaço de coworking de programação, mas para vir a se tornar uma aceleradora de startups, selecionando empresas para trabalho e captando recursos junto a fundos privados e órgãos de fomento estadual e federal.

“Nessas caminhadas, surgiu a oportunidade de participarmos de editais de inovação. Um deles é o PPG Empresa, um edital promovido pela FAPEAL e pelo CNPq em que temos dois bolsistas da área de Robótica da Unit e dois mestrandos do PROFNIT trabalhando com a gente em soluções de inovação para a segurança pública, desenvolvendo alternativas que podem ir para o mercado no que chamamos de PDI – Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação.”, explicou Gesyca.

Os sócios falam do programa piloto da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (FAPEAL) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), lançado em 2018 e que, nesse caso da i9, proporcionou quase R$ 5 mil em bolsas que facilitaram a atração de cérebros e a pesquisa com os estudantes do Centro Universitário Tiradentes (UNIT) e os mestrandos do Mestrado Profissional em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para Inovação (PROFNIT) da UFAL.

Por isso que, tanto quanto desenvolver o escalonamento das startups, os empreendedores digitais preocupam-se também em estimular o envolvimento dos demais empreendedores na transformação digital que esta era da informação, das conexões em rede e da experiência do usuário demanda. Nessa missão, também enxergaram a capilaridade de atuação do Sebrae como um aliado.

“Recentemente, participamos do SebraeLab em Movimento e pudemos ir até Penedo, Arapiraca e Delmiro Gouveia para falar sobre startups e inovação. Esse contato foi muito proveitoso e importante, não só para divulgarmos nossos parceiros, mas para interagirmos com pessoas interessadas em inovação nas outras cidades ou até aquelas que queriam apenas conhecer o que era aquilo sobre o que estávamos falando, o que é possível fazer que pode ajudar a mudar os negócios e as vidas deles ali.”, lembrou Gesyca Santos.

O caminho do dinheiro
A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (FAPEAL) vem, desde 2004, investindo em programas de subvenção econômica voltados para microempresas e empresas de pequeno porte, como o PAPPE Integração, Tecnova I e II e, mais recentemente, o Centelha, todos em parceria com a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), empresa pública brasileira de fomento à ciência, tecnologia e inovação (CT&I). Para o Centelha, contou também com aporte financeiro do Sebrae.

“O apoio à ciência e à tecnologia é um fator crucial para a sobrevivência dos países, principalmente considerando a competitividade e as rápidas mudanças do mundo de hoje. Existe uma forte correlação entre a fração do PIB de um país investido em C&T e seu desenvolvimento geral. Nos países mais desenvolvidos, esse percentual gira em torno de 2,6%, enquanto nos menos desenvolvidos, algo em torno de 0,1%.”, apresentou Juliana Khalili, assessora de Projetos Especiais e Inovação da FAPEAL.

Os resultados do PPG Empresa ainda não podem ser mensurados, pois o edital ainda está em andamento, completou Juliana, mas há um grande potencial para geração de Propriedade Intelectual ao final dos projetos nas empresas. Os demais editais de subvenção econômica, juntos, já beneficiaram mais de 30 empreendimentos, com experiências que mostram a formação de equipes de pesquisa e desenvolvimento dentro dos negócios, inserindo a cultura da inovação no empreendedor.

“Hoje, uma empresa que não inova é fadada a uma posição pouco competitiva no mercado. O Edital Tecnova I, em especial, alcançou resultados impressionantes quanto ao desenvolvimento de produtos de excelência, em diversos setores. Como exemplos de sucesso, podemos citar o escalonamento semi-industrial de bioprodutos usando extrato de própolis vermelha e o desenvolvimento de software para tradução automática de websites de português para a língua brasileira de sinais, por exemplo”, enumerou a assessora da FAPEAL. Este último projeto diz respeito a outra bem-sucedida startup alagoana, a Hand Talk, que já chamou a atenção da Organização das Nações Unidas (ONU) e do Google, cuja história será contada na próxima matéria desta série.

Esses editais e formas diferenciadas de financiamento em PDI são cuidadosamente planejados como uma forma de o Estado dividir com o empresário os custos – por vezes, elevados – e riscos tecnológicos da inovação, para desenvolver os segmentos econômicos considerados estratégicos entre o setor produtivo privado.

Capital intelectual, lucro tangível
No que tange às classificações econômicas, Tecnologia é uma das quatro grandes áreas da Economia Criativa – ao lado de Consumo, Mídias e Cultura –, sendo dividida nos segmentos de Biotecnologia, Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC).

No Mapeamento da Indústria Criativa de 2019, estudo nacional conduzido pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) sobre o mercado formal da Economia Criativa e divulgado em fevereiro deste ano, Tecnologia apresentou um desempenho superior ao do total do mercado de trabalho, alinhando-se à tendência mundial da digitalização.

Ao lado de Consumo, reuniu 80% dos trabalhadores formais da Economia Criativa (especificamente, 37,1% deles), com a maior remuneração entre todas as áreas, com vencimento médio de R$ 9.518,00, três vezes e meio o rendimento médio mensal brasileiro no período.

Contudo, o mercado da Tecnologia é muito dinâmico, com práticas mais flexíveis de trabalho, faturamento e até de investimento entre os empreendedores digitais. A própria i9 Colab é constituída a partir de participação nos resultados, assim como as startups americanas negociam em ações.

Outra área de atuação dos sócios é a de fornecimento. A Fábrica de Bots, além de cliente atendido, tornou-se também fornecedora do Sebrae para aplicar soluções Sebraetec em outras empresas, ajudando-as na transformação digital do negócio. Essa diversificação corrobora com o crescimento horizontal das startups, focado no acesso a mercados por meio da ampliação da base de clientes com a oferta de novas soluções e, assim, conquistando maior volume de vendas.

Dados do Sebrae em Alagoas referentes ao ciclo mais recente do Projeto de Startups (biênio 2017-2018) constatam que as parcerias foram fundamentais para essa expansão de mercado: 70% realizaram negócios em conjunto ou trabalhos com outras startups, empresas, instituições e associações. Essa sinergia permitiu que 70% dos participantes do Projeto de Startups criassem algo novo em produtos, serviços ou processos. Ao mesmo tempo, 74% ampliaram seus serviços a fim de conquistar novos mercados e 83% obtiveram novos clientes.

Em termos financeiros, os números são ainda mais significativos: crescimento de 511% no faturamento ao longo do ano de 2017 (de R$ 81.257,14 para R$ 415.725,00 anuais) e de 646% em 2018, totalizando R$ 252.300,00. “O Sebrae e as instituições parceiras consideram as startups um segmento estratégico, porque conseguem puxar o desenvolvimento de outros segmentos. Geralmente, um projeto de atendimento do Sebrae dura dois anos, mas, no caso das startups, trabalhamos desde 2012, pois elas são estratégicas e transversais. As empresas precisam passar por esse processo de transformação digital para ganhar mais gastando menos. Seja por meio de um app, de inteligência artificial, de um sensor, é a tecnologia que vai ajudar nisso.”, destacou Áurea Andrade, analista da Unidade de Comércio e Serviços (UCS) do Sebrae em Alagoas e gestora do Projeto de Startups.

Mas, no ecossistema digital, nem tudo é traduzido na frieza dos números, afinal, estamos falando de visionários, inovadores, pessoas que querem mudar o mundo melhorando a vida de seus pares. O propósito do negócio e o problema que ele pretende resolver são tão importantes quanto o balancete da contabilidade. Vamos tratar disso de forma mais aprofundada na próxima e última matéria desta série. Acompanhe!

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Fonte: Agência Sebrae

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