Creditas: do seed à avaliação em US$1,75 bilhões

É fato que capital é combustível para o crescimento das scale-ups. Mas, como isso acontece na prática? Veja a jornada de captações do Sergio Furio, Empreendedor Endeavor à frente da Creditas, desde a primeira rodada até ser avaliada em US$1,75 bilhões.

O Venture Capital é a principal alavanca para o crescimento das scale-ups. Esse capital permite a contratação de funcionários, investimentos em inovação, lançamento de produtos e expansão local e global, por exemplo.

E a indústria brasileira nunca esteve tão bem. Mesmo em um ano desafiador como o de 2020, o Brasil celebrou US$ 3,5 bilhões de dólares investidos em scale-ups brasileiras, em um total de 482 deals, segundo o Distrito.

Os unicórnios são indicadores desse boom. Em 2009, apenas 9 países tinham empresas de tecnologia avaliadas em mais de US $1 bilhão, hoje são 26 países e só o Brasil conta com 12 unicórnios.

De acordo com o report da Distrito, Corrida dos Unicórnios, o tempo médio de formação de um unicórnio é de 8 anos. Isso mostra o amadurecimento do ecossistema brasileiro de inovação, propenso a formar empresas tecnológicas de grande porte. E também o preparo dos empreendedores, que estão, cada vez mais, entendendo como realizar investimentos saudáveis: sem diluição excessiva ou cláusulas que impedem o crescimento prolongado das suas empresas.

E a história desse desenvolvimento do ecossistema empreendedor também é a história da Creditas. O espanhol Sergio Furio chegou ao Brasil com uma missão audaciosa: mudar o cenário do crédito e quebrar o monopólio de juros bancários no Brasil. Assim, fundou, em 2012, a Creditas, uma plataforma online de crédito com garantia. Depois de nove anos, a scale-up cresceu. E cresceu muito. Hoje, além de já ser avaliada em US$1,75 bilhões, é uma das maiores referências entre as fintechs de alto crescimento e oferece produtos e soluções em três ecossistemas: imobiliário, veículo e salário.

Para sustentar esse crescimento, Sergio captou mais de US$ 569 milhões ao longo dos anos. Mas, não pense que foi fácil. Para além de ter o capital, sempre foi preciso agir com estratégia e colocar o dinheiro no lugar certo. Confira como foram as rodadas da Creditas até se tornar um unicórnio.

Investimento seed

Em 2013, um ano após a fundação da Creditas, Sergio sentia na pele as dificuldades de posicionar a empresa no mercado. Os primeiros clientes vieram só depois da parceria com a Brazilian Mortgages, player tradicional no offline, que trabalhava como Home Equity.

Ele precisava de leads e clientes. Então, o próximo passo seria a fusão com uma startup que já era conhecida no mercado de crédito, a GranaAqui. Então, procurou alguns fundos de venture capital, mas não avançou com nenhum. O primeiro investimento, 18 meses após ter fundado a empresa, acabou vindo de amigos, ex-colegas e alguns executivos do mercado financeiro brasileiro.

Com R$1,5 milhão arrecadado e fusão realizada, a empresa iniciou uma verticalização, passando de só repassar os leads online para as instituições financeiras parceiras no marketplace a participar mais ativamente no processo de avaliação do risco e coleta de documentos. Com isso, a conversão dos clientes aumentou, o número de leads triplicou e a receita começou a ser cada vez mais expressiva.

O maior aprendizado da rodada é que os resultados provam o valor da empresa. Se no início, explicar para os investidores o potencial do negócio era desgastante, logo passou a ser muito simples: os resultados falavam pelo empreendedor.

Series A

Em 2015, com uma visão estratégica mais clara, o negócio começou a ganhar tração. Nesse contexto, era preciso crescer o time. Era a hora de ir para o Series A.

Tudo que Sergio aprendeu no investimento seed, ele aplicou em seu Series A. Em uma rodada mais fácil, entraram três fundos com R$ 10 milhões – Redpoint eVentures, Quona Capital e QED Investors -, que ajudaram a levar a empresa de 15 para 65 pessoas no ano seguinte ainda nesse ano.

Em 2016, uma ampliação do Sereis A de R$15 milhões propiciou a entrada da Kaszek Ventures; nesse momento a Creditas passou de distribuir crédito de terceiros com um modelo de marketplace a oferecer o próprio crédito, a partir de um modelo de venda de operações para investidores via FIDCs.

Ao final do mesmo ano, o time já era de 110 pessoas e a receita cresceu 3 vezes.

Series B

O Series B foi uma das captações mais importantes na história da Creditas. É essa que oferece estruturas para que a scale-up pudesse se posicionar com força no mercado de crédito brasileiro.

Motivado por criar o próprio veículo de crédito, começar a fazer a cobrança e acelerar ainda mais o crescimento, a scale-up recebeu aporte, em Fevereiro de 2017, de R$ 60 milhões, em uma rodada liderada pela International Finance Corporation (IFC) com participação de Naspers.

Series C

Ainda no mesmo ano da Séries B, a Creditas lançava um FIDC próprio para Autos e um FIDC para Home Equity. Passava, com isso, a participar dos resultados da operação de crédito diretamente. Foi um ano mágico, em que a receita cresceu 6 vezes.

O time chegava a 285 pessoas e a empresa que tinha começado em um escritório de 5 m², agora já ocupava 2.500 m².

E, junto com a empresa, os desafios também cresciam: era preciso colocar a Creditas no megafone e contar que existia uma alternativa aos 200% de juros das instituições tradicionais, além de lidar com a complexidade operacional, decorrente do crescimento.

Para enfrentar esses percalços, a scale-up anunciou em dezembro de 2017 um aporte Series C de R$165 milhões liderado pelo fundo europeu VEF e virou a maior rodada de fintechs brasileiras de 2017. Novos fundos também entraram na rodada, incluindo Amadeus Capital Partners, Santander InnoVentures e Endeavor Catalyst, o fundo de co-investimento da Endeavor para empreendedores apoiados.

Com o investimento, a empresa continuou expandindo o modelo e finalizou 2018 com uma carteira de crédito de R$ 500 milhões e 500 funcionários no time, sendo que a receita líquida cresceu de novo cinco vezes em relação a 2017.

Series D

2019 continuou a jornada de crescimento exponencial. Nesse ano, a Creditas protagonizou as manchetes dos principais veículos de negócios: um novo aporte, liderado pelo Softbank, no valor de US$ 231 milhões.

Na época, o Empreendedor Endeavor disse:

Na Creditas, nos concentramos em criar uma experiência incrível que proporcione eficiência e preços mais baixos para democratizar o acesso a crédito no Brasil. Com esses investimentos, pretendemos acelerar esse processo e expandir nosso modelo de negócios a fim de melhorar a vida da população brasileira. Estamos entusiasmados com a parceria com o Vision Fund e o SoftBank Latin America Fund, juntamente com nossos investidores existentes.

Series E: o momento de se tornar unicórnio

Em 2020, havia chegado o momento de aumentar a cartela de produtos, passando a oferecer soluções para casa, carro e salário e, também, expandir para o México.

Com a crise sanitária do coronavírus causando estragos e turbulência no mercado de crédito e liquidez, Creditas segurou o crescimento por alguns meses.

Mas, rapidamente voltou a crescimento acelerado. Em dezembro de 2020, anunciou o seu Series E. Em uma rodada de US$ 255 milhões liderada pelo fundo LGT Lightstone e com participação de nomes relevantes como Wellington Management e Advent, a scale-up foi avaliada em US$ 1,75 bilhão.

Após anos de experiência, esta foi a rodada mais rápida feita pela Creditas: o processo começou em setembro de 2020 e a empresa fechou o investimento em dezembro. Um dos fatores que facilitaram o fundraising foi o fato das reuniões com investidores serem feitas online, já que antes eram feitas presencialmente em vários lugares do mundo.

Com esse capital, o primeiro passo foi fazer a aquisição da Bcredi, empresa que passou pelo Scale-up Endeavor, é uma das primeiras plataformas digitais de crédito imobiliário com garantia, que deve implementar a modalidade de Lending as a Service (LaaS) como próximos passos da transação.

Porém, para Sergio, o reconhecimento como unicórnio não é o fim. É apenas meio. Em uma entrevista, o empreendedor disse:

Nada muda. Seguimos trabalhando como no primeiro dia. Queremos evitar qualquer tipo de distração e focar no que melhor sabemos fazer: trabalhar duro e seguir resolvendo problemas complexos, que ajudem milhões de brasileiros.”

A trajetória do Sergio Furio tem muito a nos ensinar sobre a importância de captar de forma estratégica para atingir objetivos, dando um passo de cada vez. Também diz muito sobre a importância de errar e aprender com os erros, para que as próximas rodadas sejam sempre mais simples e fáceis.

A história de captação da Creditas nos prova que os investimentos, quando realizados de forma saudável em termos de diluição e governança, alavancam o crescimento das scale-ups e, também, do país.

Source link

Posts Relacionados