Da CLT ao CNPJ

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Seja por sonho, seja por necessidade, empreender é sempre um desafio, independentemente da idade do profissional e do setor de atuação. Para compartilhar experiências de profissionais que decidiram trocar carreiras sólidas para empreender na área de RH, a Regional Vale do Paraíba promoveu, no último dia 23, o webinar Transição de Carreira: Da CLT ao CNPJ. Ana Claudia Fonseca, diretora de Comunicação da Regional, mediou um bate-papo entre três empreendedores que atuam como palestrantes e consultores: Marcelo de Elias, fundador da Universidade da Mudança; Cristiano Santos, sócio-fundador da People Desenvolvimento Humano; e Rafael Takei, palestrante e mentor de Propósito (Ikigai); A seguir, um pouco da trajetória de cada um:

MARCELO – “Durante muitos anos fui executivo de RH. Sempre adorei essa carreira, principalmente por gostar de pessoas, mas nunca fui muito afeito a rotinas e horários. Apesar de a carreira ter ficado muito interessante em termos de remuneração e oportunidades, precisava de algo que tivesse mais a ver comigo. Também sempre gostei de ser treinador, palestrante e consultor. Na verdade, entrei na empresa onde eu trabalhava por ser treinador. Na época, tinha uma pequena consultoria com outro amigo e a empresa me contratou como analista de T&D. Ali fui crescendo até me tornar o principal executivo responsável pelo RH. Apesar da gratidão e do orgulho dessa trajetória, não me identifiquei tanto com as rotinas. Então, fiz um plano até ousado. Nem queria mais dar treinamento, queria trabalhar logo com palestras.

Em janeiro de 2014, falei com o meu chefe que pretendia seguir outro caminho. Ele entendeu, fizemos um plano de transição, ajudei a desenvolver outro executivo e, em julho daquele ano, fui para essa carreira que dependia muito mais de mim e que acabou dando muito certo. Entretanto, para que essa mudança funcionasse, tive de, em primeiro lugar, ter claro o que eu queria, porque para aguentar os baques da insegurança você precisa ter convicção de que a mudança tem a ver com a sua essência.

No meu caso, fiz uma transição um pouco mais tranquila. Tem gente que é mandada embora da empresa da noite para o dia, mas, como tive essa oportunidade, fui fazendo o trabalho com um pé em cada canoa. Tinha uma empresa de treinamento para a qual eu trabalhava no final de semana e à noite. Foi bom para testar, conquistar alguns pequenos clientes, outros maiores até que, na hora de fazer a mudança, já tinha uma pequena carteira, não o suficiente para ter o mesmo salário da empresa, mas não estava começando do zero em nível de experiência e em nível de clientes.

Fiz uma reserva financeira pequena de pelo menos seis meses. Dizem que precisa ser de um ano, mas estava ansioso. Tudo deu tão certo, que nunca precisei mexer nesse dinheiro. Quero chamar a atenção para um ponto: mudei pelo amor e não pela dor. Quando mudamos pelo amor, não pela necessidade urgente, acho que funciona ainda melhor, porque fazemos com mais convicção e mais carinho. Mas seja qual for o motivo da sua mudança, aproveite porque mudar faz bem.”

CRISTIANO – “Ao longo de 20 anos fui executivo de RH de multinacionais. Tudo começou em 2002 por uma iniciativa da empresa onde eu trabalhava, que, em uma época de crise, escolheu algumas pessoas para se tornarem CNPJ. Pensei: já que tenho a empresa aberta por que não me aventurar em fazer alguns treinamentos no final de semana, pois era muito apaixonado pela questão do desenvolvimento de pessoas dentro do RH. Então, os convites para palestras e treinamentos foram acontecendo de forma natural e orgânica. Naquela época nem se falava em long life learning, mas já estava me preparando, estudando muito, para virar consultor no futuro. Tenho mais de 60 certificados de cursos que fiz. A maioria eu mesmo paguei e aqui vai uma dica: não colocar a sua carreira de CNPJ no colo de uma empresa ou pessoa. Você tem que investir tempo, dinheiro e energia nela.

Em 2014, decidi me lançar como consultor de treinamento. Por duas vezes tive a oportunidade de voltar para o mundo corporativo a convite para viver uma experiência que ainda não tinha vivido. Ou seja, essa migração para o CNPJ não é definitiva, você pode ir e voltar várias vezes. Pode ser uma experiência muito rica se for colaborar para a sua carreira, performance e felicidade.

É claro que tem sempre a questão da insegurança. Na CLT, há uma pseudo segurança que vem do mindset de como a gente é criado. Quem nasceu em uma família de empreendedores considera essa insegurança normal, todo dia é abrir uma loja, vender e ir atrás do objetivo, mas a maioria ainda busca o modelo de ter uma carreira em uma empresa. Essa luta interna contra o mindset talvez seja o grande desafio da transição. O segredo é se preparar. Uma empresa bem-sucedida ou um bom profissional não surge do dia para a noite. Primeiro é preciso ter um propósito claro e depois um planejamento de conteúdo, de carreira, de mercado e financeiro.

Outra questão importante: existe o sonho de ter um ganho que não se limita ao que você recebe todo mês quando está na empresa e também o sonho de ter autonomia intelectual, mas é preciso humildade para entender o mercado. Você está lá para servir, não para ser aplaudido e servido pelo mercado. Precisa ter um produto para atender a dor de um cliente e flexibilidade de ouvir a pessoa que está contratando você. Além disso,vai ter que desenvolver o produto, serviço ou solução, vender e entregar, e, em paralelo, ser o administrativo e contábil. Mesmo com a colaboração de parceiros, eu faço todos esses papéis. O lado bom disso tudo? Você se desenvolve como pessoa e profissional, faz networking, às vezes ganha dinheiro e também aprende.”

RAFAEL – “Fiz várias transições de carreira dentro da CLT. Meu primeiro trabalho foi ser palestrante no Centro do Voluntariado de São Paulo enquanto tentava encontrar o primeiro emprego, que acabou sendo na área de informática. Foi excelente para eu descobrir o que não queria fazer na vida, tanto que troquei pelo Exército para dar uma ideia. Depois de 8 anos no Exército, fui ser professor universitário.

A virada para abrir o CNPJ começou quando um aluno da pós-graduação me convidou para falar no trabalho dele. Acabei implantando toda a área de treinamento e desenvolvimento nessa empresa e percebi que havia um espaço muito claro onde eu poderia contribuir com as organizações. Eu ainda continuava como professor e coordenador na universidade e volta e meia tinha convites para palestras.

Minha primeira cabeçada como empreendedor foi em 2018 quando tentei fazer a carreira de palestrante funcionar. Acontece que eu ainda era mais professor que palestrante. Escolhi o tema do propósito para o mercado, mas o mercado não se interessou. Apesar de ser um tema que eu amava, não havia a compreensão de que era algo útil para as empresas. A pancada foi dura e tive que voltar para fazer a minha lição de casa. Nessa época ainda não tinha me desligado da faculdade.

Estudei muita coisa, ouvi bastante o cliente e redesenhei tudo. Percebi que falar de propósito por si só era bacana para evento de final de ano, aquele evento para planejar o ano seguinte, mas não pagava as contas dos outros meses. Aí tive a ideia de falar de aplicações na empresa para o líder entender que propósito se traduz em engajamento. Como consequência, surgiram várias palestras com esse foco.”

Fonte: Assessoria de Comunicação ABRH-SP (30 de Agosto de 2021)

ABRH-SP

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