Dois livros para pensar e interpretar o mundo de hoje

Colunista convidado: Bruno Marques, gestor multimercado da XP Asset

Recentemente o Thiago Salomão me pediu que recomendasse dois livros que me marcaram, um relacionado a temas de mercado e outro não. Como todo leitor sabe, é muito difícil escolher somente dois, mas vou tentar.

Escolhi títulos menos conhecidos e fugi dos livros de ficção, uma vez que acho que ninguém em sã consciência quer saber minha opinião sobre “Crime e Castigo” ou “Dom Casmurro”. Então vamos lá.

O primeiro livro, cuja temática envolve mercado financeiro é talvez a mais difícil, uma vez que é um tema amplo e com várias possibilidades. Poderia citar os livros do Taleb, todos fantásticos e que fazem uma intersecção entre mercados, economia, filosofia e estatística, mas já foram amplamente elogiados.

Poderia citar os livros de finanças comportamentais fantásticos, como o “Rápido e Devagar” do Daniel Kahneman ou “Misbehaving” do Richard Thaler ou ainda livros mais técnicos, como os do Hull e Natenberg sobre opções ou do Fabozzi para renda fixa.

Contudo, optei por um título que na minha opinião não tem a fama que merece: “In an Uncertain World” a biografia do ex-secretário do Tesouro americano e ex-CEO da Goldman Sachs Robert Rubin.

Robert Rubin começou sua carreira no departamento de arbitragem da Goldman, virou sócio e depois diretor e CEO do banco. Passou por grandes transformações no mercado financeiro em uma das mais bem sucedidas partnerships da história. A primeira coisa que me chamou atenção no livro foi a forma peculiar do autor de analisar o mundo e tomar decisões, que ele chamou de “pensamento probabilístico”.

Em sua visão nada é definitivo e devemos analisar o mundo em função das probabilidades de cada cenário possível, não apenas em função de um único. A primeira parte de sua bem sucedida carreira é uma aula sobre o funcionamento de uma das maiores e melhores instituições do mercado financeiro americano e as principais evoluções dos anos 1980 e 1990.

Contudo, o que mais me interessou foi a segunda parte de sua carreira, no setor público. Rubin teve diversos cargos nos governos Clinton na década de 1990, mais notadamente secretário do Tesouro (o equivalente ao nosso Ministro da Economia) entre os anos de 1995 e 1999.

Nesse período Rubin promoveu um forte ajuste fiscal que levou a uma enorme redução da dívida americana e serviu de base para o espetacular crescimento nas décadas seguintes, algo que nos seria bem útil lembrar nesse momento da economia brasileira.

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Mas, principalmente, essa foi uma época fértil em crises, com a crise do México, Ásia, Rússia e a quebra do fundo LTCM. Nesse período podemos ter uma visão privilegiada da intersecção entre governo, mercados e economia, algo que acho fascinante.

Rubin mostra os detalhes de sua participação em uma das fases mais atribuladas das últimas décadas, se valendo de seu modo peculiar de pensar probabilístico para tomar decisões que moldaram o futuro de alguns países (não seria exagero dizer que ele salvou o México, por exemplo). Como gestor de um fundo macro, essa parte é fascinante e seu modo de pensar e decidir é exemplar.

Já a escolha do segundo livro foi mais fácil. Li a primeira vez quando tinha 15 anos e reli algumas vezes desde então. Não seria exagero dizer que mudou minha vida, despertando meu interesse por ciência, física e filosofia da ciência. É “O Mundo Assombrado Pelos Demônios: A Ciência Vista Como Uma Vela no Escuro” do falecido físico americano Carl Sagan.

Apesar de famoso pelos seus livros de divulgação científica, nesse livro o autor foca menos na física e mais na defesa da razão e do método científico. Nele, Sagan emprega o método científico em diversos exemplos para refutar uma série de crenças, usando a “vela” da ciência contra o demônio da ignorância. Num período em que fake news dominam a mídia e fatos que julgávamos bem explicados são questionados (terraplanismo, anti-vacinas, etc), ele nos ensina que a ciência é menos uma solução final e mais um processo, em constante evolução e que nos trouxe até aqui.


Nas palavras do autor “durante grande parte de nossa história, tínhamos tanto medo do mundo exterior, com seus perigos imprevisíveis, que abraçamos de bom grado qualquer coisa que prometesse amenizar ou explicar o terror. A ciência é uma tentativa, bem sucedida, de compreender o mundo, de controlar as coisas, de nos controlar.”

Boas leituras!

Fonte: Infomoney

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