É possível conciliar transformação digital e saúde mental? – ABRH-SP

imagem de uma mulher ao celular preocupada

“O grande motivador da transformação digital foi a necessidade de nos afastarmos socialmente em razão da covid-19.” Assim o médico psiquiatra dr. Luiz Gustavo Zoldan, head de Saúde Mental do MDA Einstein, introduziu o tema de sua masterclass “Transformação Digital e Saúde Mental: É possível conciliar?”, apresentada durante a 3ª Semana da Transformação Digital, realizada em maio pela ABRH-SP.

Ele ressaltou que a pandemia deixou uma série de pegadas. “Em relação à saúde, é muito evidente que ela não afetou somente quem adquiriu a covid-19. Tivemos complicações urgentes relacionadas à falta de leitos, às descompensações de doenças crônicas e aos problemas psiquiátricos, como transtornos mentais e o Burnout.”

Especificamente em relação à saúde mental, de acordo com a pesquisa da Mercer Marsh, antes da pandemia, 2,2 milhões de trabalhadores no Brasil buscaram tratamentos de saúde mental; depois foram 8,1 milhões. Um aumento bastante significativo. Outro estudo, publicado em março deste ano pela Organização Mundial da Saúde (OMS), apresentou uma metanálise de uma série de estudos realizados ao longo da pandemia, evidenciando que os diagnósticos de depressão e transtornos de ansiedade aumentaram globalmente nas taxas de 27,6% e 25,6%, respectivamente.

Por outro lado, talvez um dos principais legados desse período tenha sido falar mais abertamente sobre transtornos mentais. Para o psiquiatra, a pandemia nos afetou de diversas maneiras, mas em relação às nossas emoções ela afetou demais. Tivemos piora nos parâmetros de qualidade de vida, de satisfação com a vida, de felicidade e até mesmo de ansiedade. Mas também tivemos uma boa capacidade de recuperação.

“Rapidamente, quando as medidas restritivas foram sendo afrouxadas e a gente pode se ressocializar, a felicidade e a satisfação com a vida voltaram a crescer. Isso foi surpreendente para a maioria dos estudiosos que acreditavam que os índices de transtornos mentais iriam disparar vertiginosamente. Eles aumentaram, mas não dispararam vertiginosamente”, destacou o dr. Zoldan, que lembrou que as mulheres foram as mais impactadas, em razão das muitas jornadas em casa e com os filhos.

Ele compartilhou outros dados preocupantes:

  • O Brasil já é o segundo país das Américas com a maior prevalência de transtornos de depressão e o primeiro do mundo em transtornos de ansiedade.

  • Um em cada cinco adultos brasileiros terá um problema de saúde mental ao longo da vida.

  • Transtornos de depressão, ansiedade e estresse estão no Top 3 das principais causas de afastamento previdenciário.

  • O estigma de saúde mental atrasa em até dez anos o adequado diagnóstico e a oferta de tratamento.

  • Apenas 6% dos indivíduos com depressão recebem tratamento adequado em países de baixa renda e 14% em países de alta renda.

Nesse cenário, como a transformação digital pode ajudar?

O dr. Zoldan explicou o conceito de serendipidade, que são aquelas descobertas afortunadas feitas, aparentemente, por acaso. Encontros fortuitos em que a pessoa está de mente aberta, tem uma bela conversa com alguém coincidentemente e essa conversa gera uma grande ideia. O Vale do Silício, por exemplo, nasceu através de encontros fortuitos. “Quando a gente se isolou, perdemos essas trocas de ideias aleatórias e, vale ressaltar, a criatividade está muito mais no aleatório que no foco, que é necessário para a produção, mas, para a criação, é preciso expandir o foco.”

Com a transformação digital, já há uma série de tecnologias para promover a serendipidade digital, como aplicativos de Random Coffees, em que o colaborador, durante um período, vai tomar um café online com alguém que aleatoriamente também está tomando um café naquele horário para conversar sobre diferentes assuntos.

Outro exemplo de ajuda do digital é a reprodução gigante de aplicativos de wellness. Muitos deles funcionam e são uma parte da solução, muito embora não sejam a solução completa. São aplicativos que diariamente oferecem para o colaborador a oportunidade de se olhar e se conhecer melhor; e aplicativos que estimulam a prática de mindfulness a partir de protocolos validados. “A meditação não resolve tudo, mas estimula a presença, ajuda na melhora da memória e da concentração, reduz sintomas ansiosos. Por isso, deve ser estimulada desde que feita adequadamente.”

Existem ainda aplicativos voltados para a melhoria da qualidade do sono, que inclusive enviam à casa do usuário um polissonógrafo (teste que mede a atividade respiratória, muscular e cerebral, além de outros parâmetros, durante o sono) e oferecem um tratamento completo. Além, claro, das soluções de telemedicina. Como destacou o psiquiatra, existem várias plataformas de telepsicologia muito bem feitas, mas é preciso ter cuidado: procurar saber a procedência, a formação e a linha terapêutica do profissional.

Ele citou ainda os aplicativos, iniciativas de gestão e plataformas de videochamada e meetings que possibilitam a redução da sobrecarga de trabalho, uma melhor organização do dia, de gestão do tempo, de clarificação das expectativas de trabalho e autogestão do home office, promovendo a redução do estresse e o impacto positivo na saúde mental. Enfim, várias possibilidades trazidas pela transformação digital. É só saber usar.

Fonte: Assessoria de Comunicação ABRH-SP (06 de Junho de 2022)

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