Entenda as causas e as consequências na economia

A crise de 2008 teve um efeito devastador no mercado financeiro mundial, principalmente para os Estados Unidos e os países da zona do euro. O Brasil, apesar de não ter sido atingido em cheio, também teve prejuízos para as empresas e para a população.

Muita gente se lembra ou já ouviu falar dessa crise histórica, mas nem todo mundo sabe exatamente como e por que ela ocorreu.

Pensando nisso, explicamos neste artigo tudo o que você precisa saber sobre a crise de 2008, suas consequências e lições para os países e investidores. Se interessou? Continue conosco!

O que foi a crise de 2008?

Considerada a pior crise desde a Grande Depressão, de 1929, a crise de 2008 ocorreu devido ao estouro de uma bolha imobiliária nos EUA, causada por um aumento nos valores dos imóveis que não foi acompanhado pelo crescimento de renda da população.

Em suma, os bancos fizeram empréstimos de alto risco para as pessoas comprarem imóveis, sem avaliar se elas teriam condições de devolver o dinheiro. Além disso, distribuíram pelo mundo pacotes de investimento com títulos vinculados a esses empréstimos, prometendo juros altíssimos aos investidores.

No fim, os devedores não tiveram como pagar os empréstimos e os bancos começaram a quebrar, causando um enorme prejuízo a investidores no mundo todo.

Mais adiante, entraremos em detalhes sobre como a crise começou, evoluiu e quais foram suas consequências. Mas antes é preciso entender como funciona o conceito de bolha econômica.

O que é uma bolha econômica?

Bolha econômica é o fenômeno que ocorre quando um ativo financeiro passa a ser comercializado muito acima do seu valor real, e depois sofre uma queda de preço ainda mais drástica, causando enormes prejuízos aos compradores.

Geralmente acontece quando determinado produto financeiro ganha fama de bom investimento, com preço baixo e retorno alto. Por causa da alta demanda, os preços sobem, e continuam subindo até atingirem um patamar muito acima do que eles realmente valem.

Com o aumento dos preços, os ativos perdem liquidez, pois começa a ficar mais difícil vendê-los a outros investidores. Além disso, por conta dos juros mais altos, muita gente perde a capacidade de pagá-los, ficando de mãos atadas.

No caso da crise de 2008, os ativos em questão eram os imóveis e os títulos imobiliários, que por uma sucessão de fatores foram do céu ao inferno e acabaram abalando as estruturas do capitalismo.

>> Quer entender mais sobre o mundo dos investimentos? Confira este outro post do blog: Mercado financeiro: o que é e como ele funciona! <<

Como aconteceu a crise de 2008?

Agora que você já entendeu o conceito de bolha econômica, é hora de nos aprofundarmos nas causas e consequências da crise de 2008. A seguir, você saberá tudo sobre a raiz da recessão, como ela evoluiu e quais foram suas consequências.

O começo de tudo

Apesar de a crise de 2008 ser associada à quebra do centenário banco Lehman Brothers, essa foi só a ponta do iceberg. O começo de tudo foi no final da década de 90, mais precisamente em 1998.

Nesse período, houve um grande movimento de expansão de crédito nos Estados Unidos. O Federal Reserve (banco central dos EUA) mantinha a taxa básica de juros extremamente baixa para estimular as pessoas a pedirem dinheiro emprestado e aumentar o consumo no país.

Com isso, os bancos adotaram a estratégia de oferecer hipotecas a juros baixíssimos para a população comprar imóveis. Hipoteca, caso você não saiba, é oferecer um imóvel como garantia para conseguir dinheiro emprestado. Se a pessoa não quitar a dívida, o banco pega o imóvel para si para cobrir o prejuízo.

Esses créditos, chamados subprimes, eram liberados sem avaliação de risco, considerando apenas a garantia oferecida pela hipoteca.

Na prática, as pessoas começaram a hipotecar suas casas para comprar outros imóveis a juros baixos, porque o negócio era muito bom para não ser feito. E os bancos emprestavam dinheiro sem ter certeza se o outro lado teria condições de pagar.

O problema é que grande parte desses créditos foram concedidos a desempregados e outras pessoas em situação financeira delicada, que não teriam como quitá-los. Esse foi um dos pontos que geraram a crise de 2008, junto com outros fatores que veremos posteriormente.

A oferta de CDOs

Ao mesmo tempo em que emprestavam altos valores para a compra de imóveis, os bancos passaram a misturar essas dívidas de alto risco com dívidas de baixo risco para montar pacotes de investimentos chamados CDOs (obrigações de dívida com garantia, em português).

A ideia era que, quando os norte-americanos pagassem suas hipotecas, esse dinheiro voltaria para os investidores com juros altíssimos. A promessa de retorno era extremamente atrativa, fazendo com que investidores do mundo todo colocassem seu dinheiro nesses títulos, sem saber o tipo de dívida que existia nos pacotes.

A confiança do mercado financeiro nos CDOs era potencializada pelas avaliações positivas das agências de classificação de risco, como Standard & Poor’s e Fitch & Moody’s, que posteriormente foram criticadas por sua atuação crise de 2008, além dos bancos.

Com o tempo, os devedores passaram a não conseguir mais pagar suas hipotecas. Consequentemente, os bancos não tinham como pagar os investidores, o que gerou uma reação em cadeia que culminou na recessão.

Estagnação de renda e alta nos preços

Mas afinal, por que as pessoas começaram a ficar sem dinheiro para pagar os empréstimos imobiliários?

Um dos principais motivos foi a estagnação de renda das famílias dos EUA, que vinha ocorrendo desde os anos 80. O problema foi agravado com os gastos do governo com as guerras do Iraque e do Afeganistão, que aumentaram a inflação no país.

Em 2004, para controlar a inflação, o Federal Reserve começou a aumentar a taxa básica de juros, o que prejudicou muita gente que tinha hipotecado suas casas para pegar créditos imobiliários.

Com juros maiores, o valor das parcelas dos empréstimos começou a aumentar. Além disso, os preços dos imóveis, que já vinham subindo com o mercado aquecido, começaram a crescer ainda mais, chegando a níveis muito além da realidade.

Isso estrangulou financeiramente as famílias, que passaram a ter dificuldades para pagar suas hipotecas. Quem tentava vender os imóveis adquiridos não conseguia, pois os preços já não eram mais tão interessantes quanto antigamente — pelo contrário, eram altos demais.

Dessa forma, as pessoas começaram a ter dívidas enormes das quais não conseguiam se livrar e muito menos pagar.

Quando dos tomadores dos empréstimos passaram a dar calotes nos bancos após o aumento das taxas de juros, o valor líquido dos CDOs despencou, causando prejuízos aos investidores e a quebra de muitos deles.

Depois de emprestar tanto dinheiro e não receber de volta, os bancos passaram a não ter mais dinheiro para pagar suas operações, o que gerou a crise de 2008.

Segunda-feira negra

Em 2006, devido a essa junção de fatores, algumas instituições de crédito que concediam as hipotecas de alto risco começaram a quebrar. O governo dos EUA passou a prestar socorros financeiros para impedir que a situação chegasse a um ponto insustentável, mas o esforço foi em vão.

Em 15 de setembro de 2008, data que ficou conhecida como segunda-feira negra, o tradicional banco Lehman Brothers declarou falência

Neste dia, bolsas de valores do mundo todo sofreram quedas terríveis, com a desvalorização de títulos de diversas organizações. Sem poder pagar as hipotecas, várias famílias tiveram que deixar suas casas em várias cidades dos EUA.

Com a quebra do Lehman Brothers, o governo norte-americano sofre uma grande pressão política e acabou se recusando a salvá-lo, ou seja, colocar dinheiro público para recuperar uma instituição privada.

Na sequência, outros bancos anunciaram perdas gigantescas, o que gerou meses de alta instabilidade no mercado.

Quais foram as consequências da crise de 2008?

A crise de 2008 não se resumiu apenas ao setor financeiro: empresas do mundo todo tiveram que fechar as portas e o desemprego disparou no mundo todo, gerando um período de grandes dificuldades sociais e econômicas.

As consequências foram maiores nos EUA e na Europa, embora todos os países tenham sentido os efeitos da crise, incluindo o Brasil. Em alguns lugares, o nível de emprego nunca mais retornou ao que era antes do estouro da bolha imobiliária.

Para salvar a economia, governos de vários países realizaram injeções de bilhões em bancos. Veja a seguir o que foi feito nos EUA, na Europa e no Brasil para conter a crise de 2008.

Estados Unidos

Em 24 de setembro de 2008, o então presidente George W. Bush anunciou um programa que previa uma ajuda de 700 bilhões de dólares para salvar os bancos. 

Bancos centrais de vários países também lançaram planos de incentivo para tentar aumentar a liquidez do mercado, facilitando o acesso ao crédito para pessoas e empresas.

Mesmo assim, a crise se alastrou e atingiu companhias consideradas sólidas, como a Chrysler e a General Motors, que declararam falência. 

Os efeitos sociais também foram arrasadores. Após a crise, a renda familiar nos EUA caiu 25% e o desemprego subiu 10,1%, maior percentual desde 1983 até então.

Europa

Mesmo com a injeção de mais de 1 trilhão de dólares dos bancos centrais na economia mundial, em dois anos a crise se intensificou na Europa, sobretudo na zona do euro.

Portugual, Espanha e Irlanda, que dependiam muito do turismo, precisaram adotar medidas de austeridade para conter a crise. A Itália também sofreu, mas foi menos afetada pois possuía maior nível de industrialização.

As consequências mais emblemáticas ocorreram na Grécia. O país contraiu uma dívida pública altíssima após pegar vários empréstimos no Fundo Monetário Internacional (FMI), além de precisar implementar cortes de gastos severos, com redução de direitos trabalhistas, salários de servidores públicos e realização de privatizações.

Brasil

Em geral, países emergentes como o Brasil foram menos afetados pela crise de 2008, mas houve sérios prejuízos envolvendo a queda do Ibovespa e a alta do dólar.

Em 2008, o PIB aumentou 5,2%, mas o impacto foi sentido em 2009, com queda de 0,3%. Também houve a maior queda na Bolsa desde a década de 70 até então, com retração de 4%.

Empresas que havia comprado ativos de alto risco tiveram enormes perdas. A Sadia, por exemplo, teve um prejuízo de 2 bilhões de reais em um trimestre. A solução para evitar a falência foi uma fusão com a Perdigão, dando início à BR Foods.

À época, para controlar a crise, o governo implementou medidas como:

  • redução da Taxa Selic de 13,75% para 8,75%, para reduzir os juros pagos em empréstimos de empresas e pessoas físicas, aumentando a circulação de dinheiro no País;
  • redução de impostos como o IPI para produtos como automóveis e materiais de construção, para segurar os preços e estimular as compras;
  • injeções de bilhões de reais em bancos, garantindo crédito para as indústrias produzirem e para as pessoas consumirem.

Como vimos ao longo do post, a crise de 2008 não surgiu de repente, mas sim de uma sucessão de erros cometidos ao longo da década anterior. Agora, use esse aprendizado a seu favor, avaliando bem a origem e os riscos de todo investimento que quiser, além de pensar muito bem antes de tomar qualquer tipo de crédito.

Fonte:Xerpa

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