Fora do eixo: o novo mapa do Venture Capital

Será que a Apple poderia ter sido fundada numa garagem do subúrbio de São Paulo? Será que o Google poderia ter sido criado por alunos de uma faculdade de Recife? Como nossas vidas seriam diferentes, se Amazon fosse uma empresa original do Rio de Janeiro?

Buscamos respostas para essas perguntas há mais de 20 anos porque, duas décadas atrás, essa resposta seria um belo “não”.

Parece que isso está mudando, e rápido.

A indústria de Venture Capital, está, enfim, se tornando global e descentralizada. Se há 15 anos, o capital de risco se concentrava em grandes eixos como Vale do Silício, Londres, Nova York e Tel Aviv, hoje os grandes investimentos estão acontecendo em Curitiba, Bogotá, Jacarta e Istambul. Isso porque uma nova geração de scale-ups na América Latina, Sudeste Asiático e Oriente Médio tem chamado a atenção dos maiores fundos do mundo, tanto pela qualificação de seus empreendedores e empreendedoras, como pelo potencial de crescimento de suas empresas em mercados pouco explorados.

Os unicórnios são indicadores dessa tendência. Em 2009, apenas 9 países tinham empresas de tecnologia avaliadas em mais de US$ 1 bilhão, enquanto em 2019 já eram 26, incluindo o Brasil que hoje contabiliza 12 unicórnios. Como metade deles já foram acelerados pela Endeavor, conseguimos traçar padrões e enxergar um futuro em que muitos outros ainda estão por vir.

A chegada de mais investidores internacionais na América Latina em rodadas late-stage tem sido a alavanca para as scale-ups escalarem seu crescimento e chegarem a um valuation maior do que US$ 1 bilhão, um marco que atrai ainda mais capital para o nosso ecossistema.

Esse movimento, conhecido como dissociação entre capital e geografia, é uma tendência que redesenha o mapa de Venture Capital do mundo. Em 20 anos, passamos de 20% para 62% de capital de risco impulsionando empresas de fora dos EUA. Só em 2020, foram investidos US$ 3,5 bilhões de dólares em scale-ups brasileiras, em um total de 482 deals.

Mas, assim como outras tendências, essa descentralização foi hiperacelerada na pandemia.

Investimentos “via Zoom”, nos quais os investidores não têm reuniões presenciais com os investidos, têm desbravado novas geografias. Segundo a Kauffman Fellows, em 2020, 86% dos investidores já afirmavam terem fechado uma rodada sem conhecer pessoalmente os empreendedores e empreendedoras, o que os leva a enxergar novas oportunidades em regiões que, até então, não estavam em seu radar.

Exemplo disso pode ser visto aqui no Endeavor Catalyst, o veículo de co-investimento global da Endeavor. Desde março do ano passado, realizamos 23 investimentos em 11 países diferentes fora dos EUA, incluindo scale-ups como Neon, Creditas, VTEX e MadeiraMadeira no Brasil.

Além disso, nosso portfólio já conta com 12 unicórnios, sendo que destes apenas 1 é fundado nos EUA, e, mesmo assim, fora do eixo. A AppHarvest é um dos primeiros unicórnios do Kentucky, região que dificilmente recebe atenção como celeiro de tecnologia.

Esse movimento reforça a importância de redes de confiança globalmente distribuídas. Mas significa, principalmente, que veremos mais empresas de alto destaque a nível mundial vindas de lugares inéditos. E o Brasil é, cada vez mais, um farol para essa nova geração de scale-ups. Por isso, essa responsabilidade pesa um pouco no ombro de cada um de nós que constrói esse ecossistema.

Sinto essa responsabilidade e oportunidade quando lembro de discursos como o da Linda Rottenberg no nosso último encontro: “vejo muitas grandes empresas vindas de lugares como Indonésia, Vietnã, Nigéria e Dubai. E elas estão olhando para o Brasil como um ponto de referência”.

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