Futuro do Trabalho e Saúde Mental: antes de tudo, feito por pessoas

Jovem cansado, sentado levando as mãos aos olhos

O Zeitgeist, o espírito do nosso tempo é aquele agente invisível ou força que domina as características de uma determinada época da nossa história no mundo. É o marcador do Tempo no tempo e, ele vem nos mostrando que VIVER atualmente não é simples, nem leve.

Considerando-se as muitas horas de trabalho, a produtividade acima de tudo e a pressão por resultados aliados a insegurança e a necessidade de agilidade exigidas pelas flutuações de mercado e (pós) pandemia, temos um cenário em que 33 milhões de brasileiros já tiveram burnout[1] segundo a ISMA/BR – International Stress Management Association.

Sentimentos como exaustão, ineficiência, cinismo e despersonalização são constantemente traduzidos pela dificuldade crônica para dormir (privação de sono e insônia), reduzindo a inteligência emocional, a empatia e o pensamento positivo, aspectos tão necessários para o estabelecimento dos vínculos e das relações interpessoais que são as bases para o bem estar psíquico e qualidade de vida.

Dados da Organização Mundial da saúde, OMS (2019)[2], indicam que o Brasil é o país mais ansioso (9% da população) do planeta e o segundo (EUA é o primeiro) com mais casos de depressão.

Tem-se estabelecido então um ciclo sem fim, em que o cansaço crônico e seus muitos derivados (abuso de medicamentos, síndrome do pânico, depressão), comprometem o estar no mundo e as relações do Homem consigo, com a sociedade e com o trabalho.

Enfocando a realidade do profissional de TI, temos números avassaladores. Dois em cada cinco profissionais entrevistados pela Yerbo apresentam riscos de desenvolver burnout e 42%[3] dos profissionais de TI consideram deixar a empresa nos próximos 6 meses.

Leia-se: O trabalho não traz mais satisfação ou prazer e com isso, desenvolve-se um sentimento de não pertencimento, de não conexão e ao não sentir mais VALOR pelo trabalho, o trabalho passa também a não ter mais VALOR, comprometendo assim todo o ciclo de engajamento e sua relação com a autoestima, criatividade e produtividade.

Arianna Huffington em seu livro Thrive recomenda a necessidade de: “Um redesenho: tempo para renovar a arquitetura de nossas vidas”, ou seja, o bom e velho equilíbrio com sabedoria dos muitos e diferentes pratinhos da nossa vida. Então, por que não utilizar as benesses desse nosso mundão tecnológico para uma vida com mais liberdade de escolha e autocuidado para a criação de um canteiro de ideias fértil e de realizações?

Há um cabedal de ferramentas – do planejamento adequado de tarefas as terapias (online ou não) – que podem auxiliar a priorizar os diferentes tópicos da vida em geral, dando visibilidade ao que está consumindo o nosso tempo de forma equivocada e não inteligente, nos deixando física e emocionalmente esgotados.

O autoconhecimento e seu reflexo no campo profissional, trouxe para o RH e para os líderes a clareza de que as organizações precisam apoiar o bem-estar e a saúde mental dos seus colaboradores. Ajudar a força de trabalho na jornada em busca de um maior conhecimento pessoal e sociabilidade auxiliará não só em um ambiente de trabalho mais participativo, mas também na preparação para o enfrentamento efetivo de crises, desafios e oportunidades.

Se o colaborador não estiver bem, não terá a flexibilidade, a clareza mental e a condição de adaptabilidade necessária que o atual mundo BANI – ágil exige. Mais do que isso, ele não se sentirá parte integrante do processo de criação e efetiva execução.

Assim, hoje torna-se imperativo a criação de programas que promovam o cuidado do emocional e da saúde mental do colaborador. O desenvolvimento de espaços em que as relações possam acontecer com a segurança psicológica preservada, sendo permitido falar da sensação de não pertencimento, falhas e medos.

Esse é o momento em que o espírito do tempo nos mostra que o cuidado com o outro vai além da necessidade de adaptação ao futuro do trabalho, prevenção de adversidades e ação em crises. Ele perpassa pelo despertar interno de cada um da necessidade em cuidar de si mesmo, se escutar e encontrar no outro o eco necessário para a identificação do que nos faz ou não mais humanos e felizes.


[1] Revista Você RH Ago/Set 2021

[2] Revista Você RH Ago/Set 2021

[3] Burnout Index by Yerbo

ABRH-Brasil

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