O papel do RH na conscientização financeira de seus colaboradores

Imagem de VIN JD por Pixabay

No mês de julho deste ano, o número de brasileiros endividados bateu um recorde histórico, chegando a 71,4% de acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) divulgada pela pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). É o maior patamar da série, iniciada em 2010. Diante desse cenário, e das baixas perspectivas em relação à retomada da economia, o tema da orientação financeira ganha urgência ainda maior na pauta do RH.

Para discutir o assunto, a ABRH-SP promoveu, no início de agosto, o webinar O Papel do RH na Conscientização Financeira de seus Colaboradores (assista aqui), com as participações de Camilla Clemente, diretora de Marketing e Recursos Humanos da Consiga+; Luís Gustavo Oliveira, consultor da Pulse RH; e André Barretto, CEO da n², startup de orientação financeira. Gilberto Albuquerque, CEO e fundador da Kadmotek Ventures, foi o moderador. Leia, a seguir, as principais reflexões levantadas no evento:

ORH precisa abrir espaços para a orientação financeira

“Falar de questões financeiras entre colegas e amigos já não é uma questão simples, falar sobre dinheiro com a empresa é ainda mais delicado, porque é o local de trabalho onde queremos nos mostrar sempre presente e bem. Isso acontece principalmente porque não há abertura para conversar sobre esses temas. É papel do RH, portanto, abordar a questão como algo normal e corriqueiro, que faz parte, inclusive, da saúde mental das pessoas.

É um tema extremamente delicado, que, agora, com a pandemia, piorou ainda mais. Todos nós temos dívidas e contas a pagar. A renda familiar foi muito reduzida e é papel do RH, além de fazer a abertura desse tema, dar ferramentas para que os funcionários consigam estabelecer uma organização diferente a fim de lidar com o dinheiro, seguindo uma metodologia para se autocontrolar. A família também tem de fazer parte disso, porque a relação com dinheiro não é única. Não adianta só você mudar. O seu marido, sua esposa, seu filho têm de estar juntos nisso. É uma mudança de comportamento.” – Camilla

Sobre o crédito consignado

“Tanto para a pessoa que está trabalhando quanto para aquela que está aposentada, o consignado é uma ferramenta bem-vinda porque reduz os juros, alonga o prazo de pagamento e adequa as parcelas à faixa salarial, o que permite à pessoa se organizar. Entretanto, não adianta fazer um empréstimo, pagar as contas e não mudar o comportamento de consumo, porque a pessoa passa a ter também a dívida do empréstimo. A orientação financeira é algo que deveríamos aprender na escola, mas aprendemos muito mais pela dor do que de forma natural.” – Camilla

Relação saudável com o dinheiro

“Orientação financeira é ter uma relação saudável e ativa com o dinheiro. Não significa juntar dinheiro ou não ter empréstimo até porque, conforme a evolução da vida da pessoa, ela vai passando por fases e há momentos em que ela tem uma dívida ou junta menos dinheiro. É ter um comportamento positivo em relação ao dinheiro. Infelizmente, isso é muito pouco trabalhado no nosso país. Com a orientação financeira, mesmo endividado, você tem o controle da situação e sabe o que está acontecendo.” – André

Por que as empresas devem investir em educação financeira?

“Todo mundo aqui já ouviu falar de ESG (Environmental, Social and Governance). Se o RH está procurando algum assunto do Social, orientação financeira é esse assunto. A única certeza que temos é a de que o colaborador recebe o salário, mas não sabemos o que acontece com as finanças dele. Ao contribuir para que o seu colaborador tenha uma relação melhor com o dinheiro, a empresa ajuda todo o entorno dele. É fundamental esse olhar a partir de agora porque a questão financeira vai impactar cada vez mais. Existe toda uma mudança de juros ocorrendo, há a redução da renda familiar, e não podemos fechar os olhos para isso.

Temos de buscar soluções para levar o colaborador a olhar essa questão de frente, de forma saudável e gradativa. Não adianta fazer um programa e acabou. Precisa ser algo perene, até porque as pessoas têm vergonha de tocar nesse assunto. Mesmo quando há o acesso a um profissional gratuitamente, elas têm vergonha de fazer uma pergunta. Na nossa orientação financeira, uma pessoa ajuda a outra. Tem o conteúdo e tem o orientador junto para dar um norte. A orientação financeira traz um resultado para a qualidade de vida do colaborador que impacta a família e é possível fazer de uma forma que ele aprenda a pescar todo dia. Crédito é positivo, mas você tem de ter ferramentas para cuidar dele. Cabe à gente que está na liderança das empresas ou nos RHs puxar esse fio, porque isso vai impactar até no PIB do nosso país.” – André

Como despertar o senso de organização financeira?

“A primeira coisa a fazer é desmistificar que o RH vai controlar a vida financeira da pessoa ou querer saber o quanto ela está gastando em casa. Não é essa a ideia. Eu começaria por processos muito simples, por exemplo as férias. Quantas e quantas vezes recebi questionamentos do colaborador sobre o salário que não havia caído no final do mês das férias. Temos de explicar que o que ele tem para investir nas férias é um terço do valor, o resto é salário pago adiantado. Dá para explicar isso em pequenas pílulas, em bate-papos e até na própria integração para ajudar as pessoas a traçarem seus planos. Ainda na integração, você também pode explicar o quanto o colaborador vai receber de salário bruto, o tanto que vai ser descontado de impostos e o valor do salário líquido. É tornar o RH um parceiro que ajuda, mas não é invasivo. É contributivo. É construir um espaço seguro, sem julgamentos, para que a pessoa diga se está precisando de ajuda nesse aspecto.” – Luís Gustavo

Fonte: Assessoria de Comunicação ABRH-SP (06 de setembro de 2021)

ABRH-SP

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