O que aprendemos com o fundador da Netshoes sobre IPO e M&A

Marcio Kumruian cumpre o seu propósito de inspirar e transformar a vida das pessoas pelo esporte e lazer desde 2000, quando fundou a Netshoes – um dos principais sites de lifestyle esportivo da América Latina.

Em um webinar para os nossos Empreendedores e Empreendedoras Endeavor, ele compartilha tudo o que aprendeu sobre IPO e M&A como CEO da Netshoes. Confira os principais insights do bate-papo.

Neste artigo, explicamos o que é IPO

Por que fazer IPO?

MK: “O IPO está brigando com outras possibilidades de acessar capital. É uma opção que envolve mais liquidez e um pouco de desapego por parte do empreendedor(a).

Quando você decide ir para o IPO, está tomando uma decisão subjetiva e fazendo um evento de liquidez. Isso significa que é preciso preparar a companhia para contar uma grande história: de crescimento, de resultado, de valor gerado para a sociedade e do risco que está tomando.”

Quando você percebe que a empresa está pronta para o IPO?

“Quando você tem um plano muito sólido, uma governança bem feita, consistência nos seus números. Ou seja, quando atinge maturidade em algumas áreas da companhia.

Nesse momento, os bancos vão começar a pressionar muito. Por exemplo, quando eu abri capital, toda semana meu advogado me perguntava: “Are you on track?”.

CEOs e CFOs precisam se preparar para isso. O CFO principalmente é uma pessoa fundamental nesta fase, porque coloca o pé no chão e responde pela maturidade financeira que a empresa precisa.

IPO, no fim das contas, está relacionado com a necessidade de funding. É, nada mais, do que colocar dinheiro na ponta de uma maneira mais estruturada.

O IPO dá muita visibilidade e pressão ao mesmo tempo. Tem muita empresa grande que prefere ficar em paz por um tempo e opta por não abrir capital. Ainda mais que existem várias formas de acessar capital, como private equity, por exemplo.

IPO é um meio para o empreendedor(a) ou liderança que quer continuar progredindo a companhia e não sair da empresa.

Eu fiz um roadshow de uma semana e encontrei cerca de 500/600 investidores. A primeira pergunta deles sempre é: “você vai ficar na empresa, né? Não vou investir em alguma empresa que o fundador vai embora”. Se o empreendedor(a) está pensando em sair, é melhor preparar uma saída, não fazer IPO.”

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A empresa precisa ter um faturamento mínimo para abrir capital na bolsa?

“Algumas empresas que faturam US$100.000 já fazem IPO nos Estados Unidos, que é um mercado bem mais líquido. No Brasil, acho que as empresas muito pequenas podem sofrer um pouco com liquidez.

É preciso fazer um planejamento. Planejamento é a palavra-chave de um IPO: analise o potencial de crescimento futuro, quais serão os riscos e quais dados você tem para chegar nas respostas que precisa. A pergunta que eu mais escutava era: e se a Amazon começar a vender esporte? E se? E se?”

Como relacionar com investidores durante a abertura do IPO?

“O gestor que fará o roadshow tem que ir muito bem preparado, com business plan na ponta da língua. Os investidores, nesse momento, analisam até o comportamento da pessoa. É preciso passar confiança.”

O que mudou no seu papel como CEO pós IPO?

“Você vira uma pessoa pública, o valor da sua empresa está estampado publicamente no mercado e a percepção de valor do trabalho no dia a dia pelos colaboradores também pode mudar. Por exemplo, se uma empresa aberta tem um plano de stock options maduro e implementado, há risco da motivação do time oscilar em função do preço da ação no mercado.

No começo, uma vez a cada quarter, é preciso fomentar o seu relacionamento com os investidores – cerca de 20% do tempo. Além disso, também fazer reuniões, planejamento e auditoria.”

Qual foi o seu papel com o time? Como ficou a cultura da empresa?

“Meu papel como liderança e motivador do time aumentou. Ao mesmo tempo, o time tem que ter casca grossa e perseverança para continuar focado nos objetivos de longo prazo da empresa e, não necessariamente, no valor das ações de curto prazo.”

Qual o momento do M&A? Vender antes de fazer IPO pode ser melhor?

“Se você recebe uma proposta de venda antes do IPO, consegue testar um pouco o quanto a companhia está sendo vista pelo mercado. É como namorar antes de casar, sentir a temperatura.

Como critério, tem que levar em consideração o preço, quem vai te comprar, qual o plano e se você fica ou não. Ao vender, você se associa a alguém e vai passar a ter um chefe. Por isso, tem que ter muito claro a condição de trabalho e de saída.”

Você teria feito alguma coisa diferente com o que você sabe hoje?

“Sim. Por exemplo, durante a expansão para a América Latina, nós abrimos operações em dois países ao mesmo tempo e, hoje, eu abriria em um só. Não teria ido com tanta força em países que a gente não conhece.

Além disso, eu tive algumas oportunidades de venda no caminho, mas resolvi esperar para vender mais para frente. Acho que eu poderia ter aprofundado um pouco mais.”

Para você, quais as boas práticas?

“Eu não gosto de IPO muito cedo e sem Conselho. Independente do IPO ou não, a formação de um Conselho é muito importante. É um lugar de escuta, troca de aprendizado. As pessoas irão te ajudar a tomar decisões e proteger a sua empresa.

Pra mim, IPO é uma decisão de funding, de timing, de maturidade. IPO traz exposição maior – tem que saber se você quer precificação pública ou continuar low profile. Captar com fundos pode ser suficiente para a sua empresa, se não for, IPO é bem recomendado.”


Glossário

Are you on track? – Você está alinhado(a)?

Business plan – Plano de negócio.

Funding – Financiamento.

Low profile – Discreto(a).

Roadshow – Rodadas de apresentação de ativos e negócios para potenciais investidores.

Stock options – Quando um colaborador tem a opção de comprar ações de uma empresa.

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