O terror da notícia e a notícia do terror

Primeiramente devo esclarecer que o texto desta crônica não se confunde com a diuturna exposição – narrada ou on line – da violência e da criminalidade. Esse é o terreno pantanoso das tragédias explorado por algumas emissoras de televisão para provocar a catarse de inúmeros telespectadores e aumentar o seu ibope. Não se trata da “Notícia do Terror” e sim do “Terror da Notícia”, sobre o avanço universal e extraordinário do covid-19 e despejado a todo momento pela televisão, essa “mamadeira visual” na feliz expressão do poeta, escritor e crítico literário Cassiano Nunes (1921-2007).

Pela minha idade estou classificado entre os portadores da “situação de risco” frente à pandemia do covid-19. Meu nível de instrução profissional e acadêmica não me permite discutir a opinião científica, como dogma sanitário difundido pela OMS (Organização Mundial da Saúde), pelo ministro da Saúde (o Quieto) e demais autoridades médicas especializadas e administradores públicos que determinam o chamado “isolamento social”. A segregação coletiva seria a única medida para prevenir surtos epidêmicos para muito além da infecção individual. Tenho dúvida fundada se a clausura para todos seja adequada até mesmo para as pessoas jovens e especial, aos que não são considerados idosos.

Também não vou me referir, por ora, às grotescas medidas de interesse político como usufruto da doença e da morte, companheiras de estatística dos vírus que estão desafiando o mundo surpreso e impotente.

 Quero, como cidadão recolhido em prisão domiciliar, fazer algumas considerações no cenário da epidemia do medo e do paradoxo entre a chegada do homem à lua e as dúvidas científicas e tecnológicas para vencer a guerra contra as chamadas partículas infecciosas.  O medo é o carcereiro da alma e o manipulador de fugas da conduta humana.  O medo, conforme sua intensidade, impede o exercício amplo das liberdades individuais de amar, conviver, pensar, trabalhar, escrever, estudar, etc. A pandemia, segundo informação da revista VEJA na tarde do dia 5 (terça feira), já deixou, no mundo todo, 251.832 mortos e 3.598.324 contaminados. No Brasil, a estatística seria de 107.750 infectados e 7.321 desencarnados. Porém, não se divulgam as relações das pessoas curadas. E se houver alguma informação televisiva (que desconheço) jamais seria minimamente proporcional. Por que?  

Os apresentadores de telejornais, verdadeiros arautos cerimoniosos de Thanatos, o mitológico filho da noite e a personificação da morte. Eles e elas utilizam, geralmente, ênfase na dicção empertigada e frieza pelas perdas físicas e contaminação de seres humanos.    

O vírus é o campeão mundial no pódio dos óbitos. Ninguém mais falece por outras doenças infecciosas como a pneumonia, sarampo, tuberculose, dengue e malária. Outros males, a exemplo do câncer e das doenças cardiovasculares, não entram na contagem fúnebre. Por quê?, pergunto outra vez.   O Doutor Constantino Constantini, prestigiado especialista em Cardiologia observa que,  de acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia, morrem 32.093 pacientes por mês, resultando 1.000 falecimentos por dia!

Apesar do número alto de contaminados e da velocidade com a qual tem atingido mais países a cada dia, o que obrigou a OMS a declarar uma pandemia, a doença tem nível de contágio considerado moderado e baixa letalidade. Ainda assim, a preocupação para conter a disseminação é compreensível até prova em contrário. A quarentena como estratégia para enfrentar esse tipo de coronavírus divide opiniões médicas.

Afinal, de minha cela doméstica, muito bem suprida de carinho, comida e bebida  não me faltam a vontade e a  esperança numa revolução Copérnica da ciência para produzir uma vacina. Enquanto esperamos pelo alvará de soltura estou produzindo a viragem de algo incontrolável: “O tempo passa, sem que o sinta a gente” (Dante Alighieri, 1265/1321).

Mas não consigo decifrar o segredo da esfinge. Após (3) – somente três – dias de viagem a Eagle chegou na órbita lunar e Neil Armstrong, pisando no solo de nosso satélite, em 20.07.1969, proclamou: “Este é um pequeno passo para um homem, um passo gigante para a humanidade!”.   

E a viagem para derrotar o vírus quanto tempo levará?  

Blog do Dotti

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