Para a Confiance, cultura é como pedalar uma bicicleta assistida

Cristiano Brega

Assim como a bicicleta assistida, uma cultura forte demanda força no pedal, ritmo consistente e muito esforço. Veja as principais lições do Empreendedor Endeavor Cristiano Brega, CEO da Confiance Medical, sobre propósito e cultura. 

Todo ano, próximo do Natal, eu tenho um encontro com os meus amigos de infância. Chamamos de Tradição no Calçadão: reunimos umas 30 pessoas para o famoso Chope em Juiz de Fora. 

Fico tão ansioso pra esse dia chegar que mal consigo dormir. 

No encontro do ano passado, o Mariozinho, um dos amigos, chegou com uma bicicleta diferente. Era uma bicicleta assistida: você pedala, faz o esforço e ela multiplica a potência do seu pedal. 

Ele falou: 

— “Nessa bicicleta estamos conseguindo chegar em lugares que nunca chegamos. Nas trilhas, onde o bicho pega mesmo, é que ela faz diferença. Hoje, quando encontramos com uma moto pela trilha, a gente pede passagem, porque as motos são pesadas e perdem a mobilidade”.

Genial, né? Todos nós ficamos com vontade de ter uma bike daquela – até ele falar o preço.

Este ano, eu estava começando a pedalar e tive que parar de andar na rua por causa do isolamento social. Em junho, resolvi voltar. Em um sábado, bem cedo, subindo a Vista Chinesa – um “pedal” clássico no Rio – um cara passou por mim e disse: “Vamos galera! Animem aí!”.

Eu pensei: “caramba, esse cara é bom”.

Mas, um amigo que estava comigo falou: 

— “Animar com bicicleta assistida é fácil, quero ver fazer sem ajuda.”

Lembrei do Mariozinho. 

Só que, desta vez, foi mais marcante. Eu estava fazendo muito esforço e o cara passou como uma bala ao meu lado – menos esforço e mais resultado

Agora, vocês devem estar pensando: por que estou contando essa história?

Bom, vamos lá. 

Outro dia li um artigo muito legal do Edu, do Grupo Trigo, sobre cultura.

Lembrei do que ele disse ano passado, em um evento da Endeavor: “no começo, não acreditava muito nessa história de cultura“. Edu achava que isso era coisa pra colocar na parede, porém, com o tempo, ele percebeu que a cultura é fundamental. 

Eu pensei: “Opa, eu também achava que isso era conversa pra boi dormir quando entrei pra Endeavor.” 

Com o tempo, comecei a ver exemplos de empresas que performam muito acima da média e que, coincidentemente, tinham uma cultura muito forte. 

Percebi que funciona mesmo. 

A cultura da Confiance

Nós sempre tivemos a nossa maneira de trabalhar – foco nos clientes internos e externos. E o sonho grande: acabar com a cicatriz da cirurgia aberta.

Porém, foi em 2017 que começamos a olhar mais forte para os nossos valores, propósito e sonho grande. Depois de ter clareza do porquê existimos, conseguimos, através do cicatrizômetro, mensurar o tamanho do legado que já deixamos para a sociedade: medimos quantas cicatrizes nossos equipamentos já evitaram – atualizamos esse número todos os dias em nosso site.

Os Confiantes – como chamamos os colaboradores da Confiance – sabem que cada equipamento que sai para um hospital é a extensão da empresa. Não apenas na fábrica no Rio ou no escritório em São Paulo, a Confiance está em todos os estados brasileiros e com mais de 1.000 clientes. Quando entendemos isso, sentimos responsabilidade e percebemos a diferença entre fazer um trabalho e fazer parte de um trabalho.

Sempre fizemos a nossa parte para ter uma cultura forte. Porém, ainda não tínhamos pegado uma “trilha pesada”. 

Até que chegou a pandemia e precisamos ligar o modo assistido da nossa bicicleta.

A cultura da Confiance em potência máxima

A primeira coisa que percebi foi que eu, como CEO, precisava manter a calma e passar tranquilidade para os Confiantes em um cenário de tanta incerteza. Eu pedi calma para as pessoas com o cabelo pegando fogo.

Outra coisa que ajudou muito foi a transparência. Desde o início da quarentena, passei a fazer reuniões semanais com todos os Confiantes para alinhar e expor toda a nossa vulnerabilidade, sem esconder nossas incertezas.

A transparência só faz diferença quando existe confiança. E confiança não se conquista do dia para a noite: os Confiantes só acreditavam nas nossas palavras porque temos um histórico positivo e reputação com eles. 

Eu não esperava que, em função da nossa cultura e dos nossos valores, a empresa estivesse tão preparada para passar por um período de tanta turbulência. 

Eu vi, na prática, a gente se transformando em uma bicicleta assistida. 

Tivemos que trabalhar como nunca, suamos e nos esforçamos muito, mas a nossa cultura potencializou todo o esforço e a energia que criamos. 

Foi como o Mariozinho falou: chegamos em lugares onde nunca tínhamos chegado antes. Crescemos em 2020 de forma que eu não imaginava acontecer lá em março.

Tive duas grandes surpresas nesta pandemia: primeiro o faturamento, conseguimos bater as metas da empresa estipuladas no início do ano. A outra foi o resultado do nosso e-NPS. Desde 2017, monitoramos o e-NPS – pesquisa de satisfação para os colaboradores – e nunca tivemos um resultado tão alto como o de julho. Mesmo com as restrições, os cortes, reduções e suspensões de salário, o resultado foi surpreendente.

É como diz Bernardo Lustosa, meu amigo, conselheiro e presidente da ClearSale, empresa que é uma grande referência em cultura para nós: “não importa o que você faz e sim como você faz.”

Mas, sem esforço não existe energia.

Não se multiplica nada por zero.

Não adianta só pensar em propósito, é preciso trabalhar muito e melhorar sempre.

Cultura é como pedalar uma bicicleta assistida

Toda empresa tem sua cultura. Ela pode ser forte ou fraca, boa ou ruim. Então, já que a cultura precisa existir, trabalhe para ela ser forte e boa.

A princípio, ter uma cultura forte parece uma possibilidade muito distante da maioria das empresas. Porém, posso garantir que isso funciona em vários lugares. 

Vou citar o exemplo de um amigo que assumiu o serviço de radiologia de um grande hospital público oncológico. Quando ele chegou, a mentalidade era: ganho abaixo do que ganharia no setor privado, então, não preciso entregar muita coisa.

Mas, ele fez questão de mostrar para as pessoas que, em um hospital oncológico, a rapidez de um exame de imagem pode fazer toda diferença na vida de uma pessoa e que o objetivo de todos ali é salvar vidas. 

Em menos de dois anos ele acabou com a fila de exames – que era de quase seis meses. 

Cultura é um trabalho de longo prazo. É preciso acreditar que vai dar certo. Durante muito tempo, você não vai ter certeza se todo o esforço que fez vai dar resultado. 

Maquiavel dizia no livro O Príncipe: “cultura é uma das coisas mais difíceis de se mudar, em um país, cidade ou empresa”. Mas, assim como na bicicleta assistida, você não precisa apertar um botão para ligar o “modo turbo” – ele acontece sozinho. Você pedala e potencializa. Na Confiance, também aconteceu assim, do nada, vi atitudes que mostravam a cultura forte. 

Quando eu percebi a força da nossa cultura, eu lembrei de todos os conselhos que já recebi e pensei: “Nuuuuu, e não é que esse trem dá certo?”

Eu ainda não tive oportunidade de andar em uma bicicleta assistida, por isso não posso dizer se é realmente bom e se faz mesmo a diferença. Mas, eu trabalho em uma empresa que tem uma cultura forte e posso garantir: é muito bom e faz toda a diferença para todos, principalmente nos momentos mais difíceis. E quando eu digo para todos – é todos mesmo: não só para os acionistas, fundadores ou colaboradores. Mas também para a sociedade. 

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