Por que os juros devem continuar baixos por muito tempo, segundo o Opportunity

O Brasil tem mostrado ano após ano que, de fato, não é um país para amadores. E não precisamos ir tão longe para chegar a essa conclusão: tivemos Impeachment, Joesley Day, greve dos caminhoneiros, facada em candidato à Presidência em plena corrida eleitoral, idas e vindas de ministros… isso só falando dos últimos quatro anos.

Com tantos eventos inesperados em tão pouco tempo, os investidores brasileiros criaram uma certa “casca” – aprendizados acumulados ao longos dos anos. Ouso dizer que poucos gestores do mundo talvez sejam tão “cascudos” como os nossos.

Se por um lado o ambiente local é sempre muito incerto, por outro isso cria uma certa previsibilidade – por mais estranho que pareça –, permitindo aos investidores daqui se aproveitarem desses altos e baixos já tão presentes em nossa história.

No Coffee & Stocks de hoje, Thiago Salomão conversou com Marcos Mollica, gestor macro do Opportunity e economista com PhD pela Universidade de Chicago.

Com 24 anos de experiência no mercado, tendo vivido nos EUA de 2002 a 2006, minha maior curiosidade antes do papo era entender como um gestor que já viu de tudo no Brasil está investindo o dinheiro de seus cotistas em uma das gestoras fundamentalistas mais longevas do Brasil – a carioca Opportunity foi fundada em 1994.

Embora carregue posições táticas compradas em bolsa brasileira e vendida em dólar, a predileção maior de Mollica se dá pela bolsa americana. A única posição estrutural relevante que carrega em Brasil é visando se aproveitar da queda de juros por aqui. Para ele, existe uma “força gravitacional” que vai manter os juros baixos por mais tempo no mundo todo.

Abaixo, um resumo dos principais trechos da conversa. A entrevista completa, em vídeo, está abaixo.

Bolsa americana vs. bolsa brasileira

Nossa posição em bolsa é estrutural, mas concentramos mais na bolsa americana por acreditar que o cenário externo melhoraria com o início da reabertura nos países desenvolvidos. Nossa posição tática comprada em Brasil foi por ter sido encorajador ver os desenvolvimentos políticos da semana passada. Atingimos o equilíbrio, diminuiu-se a tensão e isso aliviou os mercados. Além disso, viramos a mão no dólar: estávamos comprados, zeramos e agora estamos vendidos. Nada relevante, é tático.

A dinâmica da doença nos EUA está muito mais favorável do que no Brasil e houve um volume de estímulos econômicos muito expressivo que deve continuar dando suporte aos mercados. O Brasil ficou para trás por culpa da tensão política e agora estamos experimentando uma recuperação dos mercados.

Posição estrutural na queda dos juros

Em juros, nós temos uma visão mais estrutural. Percebemos que o choque seria deflacionário, que produziria uma recessão muito forte no país e que abriria espaço para uma queda considerável nos juros. Montamos uma posição na parte curta e intermediária da curva, também acreditando que existe uma “força gravitacional” que vai manter os juros baixos por mais tempo no mundo todo.

Com relação à curva mais longa [expectativa de juros em um prazo mais longo], ainda não há necessidade de se expor a ela. Precisamos ganhar confiança no fiscal para alongar o prazo de investimento.

Preocupação estruturais em Brasil

Sem dúvida, é a evolução da doença por mais tempo. O Brasil está desorganizado e muitos Estados ainda estão experimentando a pior hora da doença. O Estado de São Paulo está enfrentando de maneira forte. Se as coisas melhorarem em SP, o mercado vai ler de uma maneira positiva.

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Fonte: Infomoney

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