Precisamos voltar a fazer o simples

Imagem de mulher com dúvida em frente a parede com pontos de interrogação

Esqueça tudo que você sabia antes da pandemia. Nada disso servirá para o novo mundo. Quem nos fez esse alerta foi Steve Blank, um dos expoentes do empreendedorismo que evoco para falar dos desafios do setor de logística no pós-pandemia.

Não é de hoje que os recursos são escassos e, mais do que nunca, a tecnologia é uma aliada à carência de um dos principais deles, o tempo. O mundo muda rápido e as soluções precisam ser ágeis, simples e inovadoras. Em se tratando do setor de logística, na prática, é preciso mudar o mindset de toda a cadeia para resolver problemas que se repetem no dia a dia.

Já temos ao alcance das mãos um aplicativo que traz, por exemplo, o raio-X do caminhão e que avisa ao motorista que, se há um furo na carroceria e que vai chover nas próximas horas, não é um bom dia para sair da garagem com esse veículo. Se sair, a carga estará molhada e os prejuízos serão certos ao chegar para a entrega. O futuro já chegou e as startups captaram isso mais rápido que o mercado tradicional de transportadoras, ainda preso a soluções analógicas, planilhas ou buscando desenvolver seus próprios sistemas. Se por um lado temos esse boom de inovação, do outro vemos empresas paradas no tempo com dinâmicas obsoletas.

Antes do advento da covid-19, o contexto era outro: liquidez excessiva no mercado, consumo em alta. Em linhas gerais, o mercado estava menos preocupado com eficiência para a logística. Quando veio a pandemia, em março de 2020, Steve Blank nos alertou: reset tudo o que você sabe sobre o mundo até agora. Só que esse reset não é tão óbvio, vem a passos lentos na economia tradicional. Parece intangível, não é mesmo?

Enquanto empresas de logística e as pessoas que ali trabalham acordarem pensando em fazer o mesmo trabalho que elas fizeram no dia anterior, não tem nenhuma chance de obterem resultado diferente.

Essa mudança de mindset, no entanto, encontra uma barreira no meio do caminho, que é uma barreira tecnológica e que o covid acelerou. As pessoas não estavam preparadas para resolver problemas com tecnologia e não estudaram para isso. Nossas faculdades não nos prepararam para esse momento. Agora imagine esse desafio na cadeia logística, principal modal brasileiro e que historicamente tem uma dinâmica sistêmica de resolver problemas diários, profissionais que raramente possuem tempo e oportunidade para sair desse looping – como fazer tecnologia chegar nas mãos desse setor? Definitivamente é preciso preencher esse gap, ensinar e aprender novas habilidades àqueles que sabem do problema, mas não possuem ferramentas para resolver.

A tecnologia e a pandemia aceleraram a democratização das informações. Ninguém mais quer ser refém de conhecimentos concentrados em áreas específicas, e o papel de todos nas empresas em intermediar e facilitar trocas de conhecimento passa a ser central, não mais opcional. Vimos movimentos parecidos em outras áreas como a Jurídica, Contabilidade e agora vemos em Tecnologia, em que precisamos ser mais facilitadores do processo de evolução e intermediar discussões estratégicas, de negócio e de resultados.

Todos, de uma forma ou de outra, tiveram que resolver com suas próprias mãos os problemas, pois não tivemos tempo para esperar o outro resolver. Passamos a sofrer com esse “nó operacional”, em que não conseguimos mais aguardar e suportar financeiramente dinâmicas de projetos que se alongam por meses, agravado por falta de recursos por conta de todo o cenário global e baixo retorno de investimento. É nesse contexto que todos tentaram, de alguma forma, resolver cada um por si.

Nesse contexto, a pandemia nos mostrou que, mais do que inventar soluções mirabolantes e complexas, precisamos voltar a fazer o simples, o básico. Assim como paramos de comer em restaurantes e voltamos a cozinhar em casa, durante o isolamento social, o setor de logística poderá usar o que está à sua volta. Isso inclui, por exemplo, o celular que está na mão de todos, a conexão que já existe, a combinação de tecnologias eficientes, um checklist inteligente, automação para tratar os dados ou qualquer recurso para integrar à realidade operacional para conseguir obter eficiência em escala. Está na hora de colocar em prática.

* Bruno Pelikan é cofundador e CEO da Rabbot, plataforma de automação e orquestração do ecossistema de frotas.

Fonte: administradores.com.br

Posts Relacionados

Deixe um comentário