Um bate papo com um super fundador

Cartão de kanbam "A fazer: Iniciar um negócios"

Publicado em: 29 de abril, 2022

Endeavor Brasil

A Endeavor é a rede formada pelas empreendedoras e empreendedores à frente das scale-ups que mais crescem no mundo e que são grandes exemplos para o país.

Vendi minha empresa. Vou descansar.

Essa foi a promessa que Ben Gleason fez para si mesmo depois de vender o Guiabolso para o Picpay em 2021.

Se fui cumprida? Essa é outra história.

Na hora de escolher seu próximo passo, se seria dentro ou fora do Picpay, resolveu ouvir suas inquietações e voltar a empreender.

Hoje, empreendedor de terceira jornada, Ben está à frente da Kamino, um hub financeiro e corporativo que acelera o crescimento das startups.

A Kamino nasceu pra resolver vários dos problemas financeiros e burocráticos que o Ben vivenciou empreendendo no Guiabolso desde 2012. Nesses 10 anos, o ecossistema mudou bastante, mas muitos desafios continuam os mesmos.

Só de ver as motivações do Ben para voltar a empreender já dá para entender que ele é um empreendedor de alto impacto.

Não é possível ver uma dor latejando, sem solução.

Ainda mais com tanto conhecimento e experiência acumulada de uma pessoa que fundou sua primeira empresa em 2010. Que mentora dezenas de scale-ups todos os anos. Que investe na próxima geração por meio do Endeavor Catalyst e Scale-Up Ventures, nossos fundos de impacto.

Para entender ainda mais suas motivações, seus aprendizados e desafios atuais, nós batemos um papo com o Ben, Empreendedor Endeavor desde 2016. Confira, na íntegra!

Ben, por que você começou a empreender?

B: “Nossa, história longa, hein? Pra contar, preciso voltar lá pros meus dias de pós-MBA em que ainda estava inserido no mundo corporativo, lá por 2009. Eu trabalhava com consultoria estratégica e sentia que fazia mais do mesmo. Então, resolvi tirar uma licença da McKinsey para fazer um projeto voluntário, reestruturando uma ONG na Rocinha no Rio, morando na comunidade. Um contraste bem grande, né? Após essa experiência, eu sentia que precisava respirar novos ares. Foi então que um amigo me chamou para eu me juntar a ele em um projeto de uma fintech, em 2010. Na época, não era fintech. Não existia esse termo. Topei. Larguei tudo em São Paulo, me mudei pra Austin, no Texas, onde fiquei morando no escritório e tentando escalar a empresa. Não consegui, não encontramos o product-market fit. Mas foi um ótimo começo para a minha vida empreendedora.

Depois dessa experiência, vi que era impossível voltar pro mundo corporativo. Após uma ótima (e intensa!) experiência, eu senti a vontade de voltar a empreender do zero, e tinha claro que dessa vez queria como sócio meu grande amigo Thiago Alvarez. Nós trabalhamos juntos na McKinsey e começamos a iterar sobre uma ideia de startup, partindo de um problema nítido que observamos na área de finanças pessoais e o desejo de gerar um grande impacto. Foi assim que surgiu o Guiabolso em 2012. No começo, parecia loucura o que estávamos fazendo, entrando na indústria altamente concentrada de serviços financeiros. Mas tivemos a sorte de estarmos juntos e ter pessoas investindo e trabalhando para que a loucura se tornasse realidade.”

Leia a história do Guiabolso aqui

Como foi a venda da Guiabolso para o Picpay? Quando é a hora de vender?

B: “Nós chegamos muito cedo no mercado. Ajudamos a educar as pessoas sobre o que era fintech. Como não tinham players de infraestrutura financeira digital, investimos muito em construir toda a tecnologia de open banking e marketplace de produtos financeiros do zero. Nesse meio tempo, vimos o mercado pulverizar e entrar muito funding. Competir por usuários ficou muito caro e com isso o mercado começou a se consolidar novamente. Não tínhamos o fôlego de continuar gastando muito na aquisição de pessoas usuárias, mas tínhamos uma ótima tecnologia, e um marketplace de produtos financeiros que era robusto e funcionava bem. Então, fez sentido usar nossa expertise, dados, tecnologia e conhecimento para nos unirmos com um player como o Picpay que tinha uma grande base de clientes.”

A Kamino surgiu em uma época que você deveria descansar, não é? Como foi esse processo?

B: “Depois da venda para o Picpay, tive a opção de continuar ou não. Eu decidi que não, que sairia, descansaria e pensaria em próximos passos. Só que, às vezes, precisamos considerar as sinergias da vida.

Foi em mentorias da Endeavor, mentorando scale-ups, que percebi que os desafios financeiros e burocráticos que eu já tinha vivido na época do Guiabolso continuavam fazendo parte da vida de novas empreendedoras e empreendedores. Desafios que até hoje não tinham sido solucionados, mesmo em um ecossistema mais maduro. Queria escalar esse meu conhecimento para grupos maiores, mentorias eram legais, mas queria que atingisse um número maior de fundadoras e fundadores. Então, procurei dois amigos que tinham já trabalhado comigo e começamos a conversar. Eles, que também já tinham fundado outras startups, também foram picados novamente pela mosca do empreendedorismo e sentimos que precisávamos começar esse negócio logo.”

O core da Kamino está alinhado com o da Endeavor, de impulsionar o ecossistema. Qual o sonho grande?

B: “A Kamino é um hub que ajuda fundadoras e fundadores a resolverem problemas financeiros dos seus negócios. Nosso sonho é ajudar startups a acelerarem seu time-to-market e se escalarem mais rápido. Isso tem um impacto gigante na economia inteira. Queremos causar esse impacto em toda a América Latina. Principalmente em regiões em que o conhecimento e a infraestrutura financeira digital demoram mais para chegar.

Eu já usava esse critério para escolher as empresas que investiria como anjo, escolhia fundadoras e fundadores que eu queria apoiar e não tinham a mesma oportunidade de pessoas que estudaram em Harvard ou foram para o Vale do Silício. Agora, posso fazer isso em escala.”

O que você leva do Guiabolso pra Kamino? E o que não leva? 

B: “Com certeza levo o impacto. Guiados pela nossa missão, conseguimos recrutar boas pessoas para o time e, de fato, causar impacto nas nossas usuários e usuários e até para o sistema financeiro inteiro, culminando na regulamentação do open banking. Isso é uma coisa que eu levo.

Além disso, eu levo a importância de ter pessoas excelentes no time. Mas agora focando também em trazer lideranças com experiências complementares, começando pelo nosso quarto co-fundador e CTO, que foi VP de Engenharia do MercadoPago. No Guiabolso, ainda tínhamos pessoas parecidas que conseguimos recrutar do nosso network de consultoria. Na Kamino, estamos investindo forte em trazer pessoas diversas para criarmos o melhor produto que podemos.”

Qual conselho você daria para si mesmo na hora de começar a empreender, lá em 2010?

B: “Faça networking. Eu nunca gostei muito de networking mas como empreendedor sempre foi uma atividade fundamental a ser feita. Então, eu olharia para essa questão com mais cuidado.  Eu conversaria com mais pessoas entendendo que cada conversa pode me trazer inúmeros aprendizados e novos contatos valiosos. Quando a gente empreende, fica com receio de perder tempo. Networking não é perda de tempo, é investimento. Cada conversa pode abrir muitas portas e fazer a gente pensar de uma forma diferente.

Outro ponto que digo muito é ter um co-fundador. Eu e o Thiago tocávamos a operação lado a lado, até como co-CEOs por muitos anos. Um podia olhar mais para ‘fora’ fazendo fundraising e parcerias, enquanto o outro olhava mais para ‘dentro’ próximo ao time e produto. Nunca me imagino empreendendo sozinho. Ter um sócio como o Thiago foi muito importante na minha jornada.”

Um empreendedor em nova jornada já começa um negócio com uma bagagem de aprendizados. Mas, ainda assim, desafios não param de aparecer. Quais seus maiores desafios agora na Kamino?

B: “Com o Guiabolso, aprendi a importância de montar um time com pessoas boas. Mas, fazer isso não é fácil. No momento, na Kamino, estamos buscando as pessoas certas para escalar as diferentes frentes do negócio. Antes, eu ficava receoso em cobrir dois mil reais em contraproposta de salário. Hoje entendo que muitas vezes é necessário, ainda mais quando você acha um talento que fará a diferença no negócio.”

Quais as principais diferenças do ecossistema de quando você começou o Guiabolso há 10 anos, em 2012? 

B: “Eu sempre digo que minha rodada de investimento mais difícil foi a Seed. Recentemente um novo empreendedor me perguntou: por que vocês não falaram com a Canary? Simples: na época, não existiam fundos Seed dedicados. Fundos de Venture Capital early stage eram escassos e nenhum de nós, empreendedores e fundos, tínhamos muita experiência nisso. O capital, hoje, está maduro e mais abrangente. O desafio atual, inclusive, é escolher o melhor fundo para o seu negócio com tanta oferta.”

Você é super ativo na rede Endeavor. Investe nos nossos fundos, dá mentorias. O que te motiva a praticar giveback?

B: “Teve uma época que estava bem difícil no Guiabolso. Estava atolado e disse que não poderia dar mentorias. Mas teve um dia que eu topei. E foi a decisão mais acertada que eu fiz. Descobri, ali, que dar mentoria me dá gás para continuar. Me dá energia para olhar para os meus desafios de forma diferente. Pensava: se eu não resolver meus problemas hoje, posso ajudar alguém a resolver os seus.”

Tem alguma coisa que você aprendeu mentorando? 

B: “Tantas coisas! Mentorando, eu consigo olhar de várias formas para o mesmo problema. Até percebo novas dimensões de desafios que eu já vivi ou até mesmo vou viver. Outra coisa super legal na Endeavor é que hoje eu procuro pessoas que mentorei há alguns anos. Elas aprenderam comigo e eu aprendo com elas.”

O que ser investidor do Catalyst e do Scale-Up Ventures significa para você? Por que esses fundos?

B: “Primeiro, pelo giveback. Esse investimento ajuda na sustentabilidade financeira da Endeavor. Segundo, com os fundos da Endeavor, eu consigo acessar empresas que estão fazendo a diferença no mundo, em mercados emergentes. Sem esses fundos, não sei se eu conheceria essas empresas. Por exemplo, eu consigo investir nas melhores scale-ups da Indonésia e em outros 40 mercados que a Endeavor está presente. Além disso, o selo Endeavor atesta a qualidade dessas empresas e o potencial de impacto de quem está empreendendo. Dá confiança.”

Para finalizar, o que te mais marcou na Endeavor até hoje, desde 2016?

B: “Eu não canso de me impressionar com a força da rede da Endeavor. Ter esse acesso faz muita diferença. Uma coisa é eu bater na porta de uma pessoa e pedir 30 minutos de conversa. Outra é acessar por meio da rede. A pessoa, inclusive, te oferece mais do que você pediu em termos de tempo e conhecimento.”

Fonte: Endeavor

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