uma ferramenta poderosa para compreender suas inclinações profissionais

um homem e uma mulher conversando olhando para um tablet

No mundo repleto de mudanças em que vivemos, principalmente por causa das tecnologias, que resolvem problemas e criam novas dinâmicas o tempo inteiro, é fundamental ter flexibilidade e adaptabilidade para enfrentar as mudanças e trazer algo bom e produtivo disso. Se o mercado de trabalho, em condições normais, já passava por inúmeras transformações, a pandemia chegou e mostrou que tudo poderia ser ainda mais alterado, inclusive para melhor.

O home office é um dos maiores exemplos de resiliência nas empresas. Antes com pouca ou média aderência, em 2020 tornou-se praticamente a única opção viável. E, de lá pra cá, ficou mais do que provado que é possível manter a produtividade trabalhando de casa. Tanto é que, no ano passado, o relatório “Protegendo o Futuro do Trabalho”, realizado pela Kaspersky, mostrou que 53% dos brasileiros gostariam de mudar de emprego, sobretudo por conta da pandemia. As motivações para isso são inúmeras, desde a procura por salários melhores, até o desejo de ter mais equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.

É natural querer mudar e, em muitos casos, é o mais saudável a se fazer. No entanto, envolve tantas questões, que é preciso avaliar a situação como um todo para, a partir dessa análise, tomar decisões mais assertivas. Gosto muito da linha de pesquisa de Edgar Schein, PhD em Psicologia Social e criador do conceito de “cultura organizacional”, ainda no início da década de 1980.

Ele estabeleceu alguns pilares que norteiam as decisões profissionais de uma pessoa. São as chamadas âncoras de carreira, que partem de uma série de competências, motivos e valores inegociáveis que representam a individualidade do profissional. Essa técnica, muito utilizada nos processos de coaching de carreira, reúne perguntas cujas respostas estão diretamente ligadas às habilidades, aos valores e às necessidades de cada um, como “considero segurança e estabilidade mais importantes que liberdade e autonomia” ou “sonho com uma carreira que contribua significativamente para a humanidade e sociedade”.

De forma resumida, ele propõe oito âncoras que ajudam a definir o momento profissional do avaliado, por meio das categorias:

1. Técnico/funcional

Pessoas que preferem carreira de especialização; são motivadas por serem especialistas em determinado assunto. Geralmente não buscam os altos cargos administrativos, pois não têm interesse em obter uma visão mais generalista.

2. Administrativo geral

Ao contrário do perfil descrito acima, pessoas com essa âncora não têm necessidade de aprofundamento em um assunto específico e buscam atingir os mais altos níveis em uma organização. Elas valorizam o reconhecimento monetário, títulos, símbolos de status e poder contribuir para o sucesso da empresa.

3.
Autonomia e independência

Esses profissionais não toleram supervisão rigorosa, gostam de ter poder de decisão e autonomia. Basta que as metas sejam claras, mas que possam alcançá-las à sua maneira. De forma geral, prezam por maior independência.

4. Segurança e estabilidade

Quem tem essa âncora busca maior previsibilidade do futuro, precisa se sentir seguro no ambiente de trabalho e, normalmente, procura empresas sólidas, confiáveis e com bons programas de benefícios, pois é a estabilidade financeira que guiará suas carreiras.

5. Criatividade empreendedora

Com muita necessidade de inventar e empreender, essas pessoas têm talento para criar novos negócios ou produtos. São inquietas e precisam continuamente de novos e criativos desafios.
Para elas, gerar dinheiro é uma medida de sucesso.

6. Vontade de servir

Certamente os cientistas, professores e sacerdotes possuem essa âncora. São pessoas que se dedicam a uma causa, que de alguma forma querem contribuir para um mundo melhor e precisam de um trabalho que lhes permita influenciar as organizações que os empregam ou a política social na direção de seus valores.

7. Puro desafio

São pessoas que definem sucesso como a superação de obstáculos impossíveis, gostam de solucionar problemas difíceis, de se sentirem desafiadas. São automotivadas e suas decisões profissionais têm o objetivo de superar desafios cada vez maiores, mesmo que isso não venha acompanhado de uma remuneração adequada.

8. Estilo de vida

Para esses, o importante é conciliar tudo o que querem fazer, acomodar todas as suas necessidades, vida pessoal e profissional. Querem, acima de tudo, flexibilidade. Apesar de serem altamente motivados pelo trabalho, definem sucesso em termos mais amplos do que só o relacionado com sucesso na carreira.

Não acredito que o teste, por si só, seja capaz de trazer respostas exatas sobre qual profissão seguir. Trata-se de uma das ferramentas que podem ser implementadas no coaching de carreiras, que vai avaliar a trajetória profissional do cliente, suas aspirações, preferências e habilidades. Ao mesmo tempo, é importante lembrar que o coach escolhido precisa ter formação e certificações reconhecidas e seguir um código de ética rigoroso. Ao longo dos meus atendimentos em coaching, é comum o cliente acreditar que seu “problema” está nas relações interpessoais ou competências que precisam ser desenvolvidas, quando, na verdade, a insatisfação atual pode estar sendo fruto de uma atuação profissional sem propósito e para a qual não se tem qualquer inclinação. Ou, voltando às palavras do próprio Schein, sendo reflexo de seus próprios “eus”.

* Cândida Semensato é coach executiva e de carreira e atual presidente da International Coaching Federation Capítulo Brasil (ICF Brasil).

Fonte: administradores.com.br

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