No Vale do Silício, localizado na parte sul da região da Baía de São Francisco, na Califórnia, todo o ecossistema tudo gira em torno de um objetivo: cultivar unicórnios – que nada mais são, do que startups avaliadas em mais de US$ 1 bilhão.
Alex Lazarow, investidor de venture capital, comenta que unicórnios eram raros até pouco tempo atrás, mas nos últimos dois anos o número de empresas têm aumentado muito e já são mais de 350 espalhadas pelo mundo.
Atualmente, unicórnios representam mais do que o valor de mercado, são uma filosofia e um processo de erguer startups.
No momento em que se tornar um unicórnio vira o objetivo de uma startup, o crescimento rápido e agressivo é perseguido. Como utensílios para atingir as metas, são empregados abundante capital de risco, um time calejado e habilidoso e um suporte amplo no ecossistema.
Por um tempo, o comportamento funcionou no Vale do Silício, mas com as vigentes desilusões nas aberturas de capital de grandes startups como Uber e WeWork, o método perdeu espaço. Além do mais, para as startups que não estão no Vale do Silício e nunca possuíram capital de sobra, esse nunca aparentou ser um objetivo sustentável.
Semelhante à fixação pelo mundo dos unicórnios, ecossistemas menores começaram a testar modelos diferentes de gestão e expansão. É o que Larazow batizou de startups “camelos”. Afinal, camelos possuem a facilidade de se adaptar em diversos climas, sobrevivem sem comida e água por meses, e quando chega o momento certo, conseguem correr por grandes períodos de tempo.
Desigualmente dos unicórnios, camelo não são seres fantásticos que vivem apenas no mundo imaginário. Camelos são reais, calmos e podem sobreviver nos ambientes mais inapropriados da terra.
Confira alguns exemplos de startups camelos:
- Sem subsídios
No Vale do Silício, empreendedores estão dispostos a subsidiar seus produtos porque há capital de sobra e sua eficiência é julgada pelo crescimento da base de consumidores – dando menos atenção aos custos e à lucratividade. Isso deveria ser repensado. Empresários que trabalham em mercados menos desenvolvidos não encaram a questão da mesma forma. Eles cobram os clientes por seus produtos. Essas empresas entendem que o valor do produto final não deveria ser uma barreira, mas, sim, refletir sua qualidade. - Gestão de custos
Startups camelos tendem a gastar de maneira mais sincronizada com sua curva de crescimento. Por exemplo, novas contratações devem ser justificadas por crescimentos em receita; investimentos em marketing devem crescer de modo apropriado com o negócio; e gastos não podem, de jeito nenhum, ir além do planejado.
Venture capital é uma ferramenta poderosa. No entanto, ela não funciona para todos empreendedores e nem toda startup precisa desse tipo de investimento. As startups camelo sabem disso. Por isso, levantam somente o necessário quando o assunto é investimento de risco, quase sempre para propósitos específicos e bem alinhados. Como resultado, empresários mantêm mais controle sobre seu negócio – e ainda ficam com uma fatia maior da “torta”, caso venda a empresa. - Visão a longo prazo
Fundadores dessas startups sabem que construir um negócio de sucesso não é uma corrida de curta distância. Para esse modelo de negócio, sobrevivência é a estratégia principal, o que leva tempo. Nesse período, startups devem trabalhar para desenvolver um modelo de negócio sólido, criar um produto que seja do interesse dos clientes e estruturar a distribuição com clareza. Para Lazarow, o que importa não é quem chega antes ao mercado, mas quem sobrevive mais tempo.
Fonte: Época Negócios