Blockchains públicos e blockchains privados não são duas faces da mesma moeda

iStock

Como se deu o “pulo do gato”?

No começo, tudo parecia apenas uma brincadeira.

Alguém conseguiu juntar décadas de pesquisa, valendo-se da maturidade de tecnologias de suporte como a criptografia, a internet, redes peer-to-peer, banda larga, para citar apenas algumas, criou a arquitetura da primeira criptomoeda, e colocou-a para funcionar em janeiro de 2009. Alguém comprou duas pizzas com 10.000 bitcoins e… veja o que vale hoje.

Nakamoto escreveu um código fonte de um software, publicou-o na internet, propondo o seguinte: “se você fornecer segurança a essa rede e ajudar essa rede financeira a operar, você será recompensado”. A lógica foi muito transparente, e foi escrita em linguagem de programação.

O avanço trazido pelo primeiro Blockchain não está apenas na ciência da computação… o “pulo do gato” está nos incentivos.

Poder computacional garantindo segurança da rede

À medida em que mais e mais pessoas perceberam os incentivos atrelados ao Bitcoin, e começaram a “plugar” seus computadores para fornecer segurança à rede, o Blockchain Bitcoin tornou-se a cada dia mais viável. Isto porque, agora, há mais poder computacional garantindo as transações.

O que é interessante neste cenário, independente de seu preço de mercado atual, é que pela primeira vez na história alguém escreveu um código e, dez anos depois, temos uma rede global que calcula números com o objetivo de realmente construir confiança através de uma plataforma, sem os intermediários tradicionais.

Neste contexto, é interessante falar um pouco mais sobre como funciona a lógica dos incentivos.

As pessoas viram o modelo do Blockchain Bitcoin e começaram a levar isso para outro nível. E a lógica se resume em descobrir “como estimular as pessoas para obter o que se deseja?”

Pense em incentivos, e em como você pode usá-los para obter o que você precisa. No caso do Blockchain Bitcoin, os incentivos são usados para obter a segurança da rede.

Em aplicações blockchain como Filecoinou Sia, os incentivos são utilizados para estimular o armazenamento de dados.

Usa-se, portanto, incentivos para atrair e recompensar os principais talentos, atrair investidores e, também, os especuladores. Especuladores também? Sim, porque eles são uma parte fundamental no início de um ecossistema decentralizado.

E, finalmente, deve-se utilizar incentivos para atrair usuários — pessoas que vão encontrar uso nestes novos serviços.

O cuidado com o “design de incentivo” no modelo “open source”

Outro ponto a se considerar aqui, é o necessário cuidado com o “designdo incentivo” em um modelo blockchain open source (de código aberto), para que ele não fique aquém de seu objetivo.

As pessoas contribuem em projetos de “código aberto” porque têm incentivos pró-sociais ou porque gostam de trabalhar em problemas complexos. É preciso observar, contudo, que quando o dinheiro começa a fluir através de uma rede open source, as pessoas podem mudar a forma como elas se comportam.

Logo, ao criar um blockchain “público” como o do Bitcoin, é preciso projetar os incentivos de forma a manter os aspectos pró-sociais (sem sobrecarregá-los com incentivos monetários).

“Early adopters” como anjos da guarda do ecossistema no longo prazo

Os usuários são parte fundamental de qualquer ecossistema digital.

E como, geralmente, eles já estão acostumados a usar determinado serviço ou plataforma, é necessário superar a inércia e a resistência ao novo, estimulando-os a migrar e a testar um novo ecossistema pela primeira vez.

Neste contexto, os primeiros adeptos (early adopters) podem desempenhar um papel fundamental na difusão de novas tecnologias. São eles que aceleram a curva de difusão de uma nova plataforma, serviço ou produto.

Logo, se você recompensar os early adopters com tokens, e fizer isto da maneira correta (alinhando os incentivos para que eles tenham uma atuação nesse ecossistema), a contribuição deles garantirá um ecossistema muito mais robusto no longo prazo.

Pois bem, para compreendermos como blockchains nos levam a um avanço econômico, é preciso perceber como o uso de incentivos em Blockchains podem tornar os mercados mais seguros e eficientes.

Blockchains públicos e privados não são duas faces da mesma moeda

É comum defensores dos blockchains privados apontarem que blockchains públicos não se enquadram nas estruturas regulatórias existente, são difíceis de monitorar e controlar, processam lentamente as transações — se comparados com a velocidade dos blockchains permissionados — , não possuem flexibilidade e, finalmente, prejudicam o planeta devido ao alto consumo de energia.

Somos bombardeados com notícias que descrevem as críticas apontadas acima todos os dias.

O que ninguém fala é… no que blockchains privados deixam a desejar se comparados com blockchains públicos?

Blockchains privados, apesar de reduzirem os custos de verificação, não potencializam o “custo da rede”.
Custos de verificação compreendem todos os gastos necessários para verificar de forma barata os atributos de uma transação específica, sem incorrer em custos adicionais ou realizar uma “auditoria extra e cara”.

Todo blockchain é importante por reduzir “custos de verificação”. Mas… blockchains realmente revolucionários reduzem os “custos de rede” — todos gastos de mão-de-obra e capital necessários para garantir que transações em uma infraestrutura tradicional aconteçam.

Somente Blockchains públicos (não permissionados) combinados com um token nativo (design de incentivo) podem ser usados para iniciar uma plataforma digital sem a necessidade de um intermediário central.

Impulsionadas apenas pelos “design de incentivo” incorporados em seu protocolo (um token nativo, por exemplo), as plataformas “públicas” desfrutam dos benefícios de uma infraestrutura sem o principal custo normalmente existente: o poder de mercado.

Em sua participação no Future Thinkers, Vitalik Buterin, destacou a economia de custos proporcionada pelos blockchains públicos. Disse ele:

“Há muitos intermediários que acabam cobrando de 20% a 30% e se o conceito de descentralização decolar e se sair bem, então eles também vão cair para perto de zero” — Vitalik Buterin.

Ao reduzir o custo da rede, os blockchains públicos também possibilitam uma definição refinada dos direitos de propriedade digital, incluindo direitos sobre os dados subjacentes.

Takeaway

Blockchains estão trazendo transformações extremamente benéficas à sociedade, com o surgimento de novos modelos de negócios e a criação de plataformas sem o seu maior custo atual — os intermediários.

E neste cenário, os designs de incentivo exercem papel fundamental, ao possibilitarem uma redução de custos e permitirem a volta a competição em mercados antes extremamente concentrados.

Tatiana RevoredoEspecialista em Blockchain pela Universidade de Oxford

Fonte: administradores.com.br

Posts Relacionados

Deixe um comentário