A imprevisibilidade faz parte do nosso dia a dia profissional e pode gerar muitos desafios. Saiba como lidar com ela!
O que o Ayrton Senna, o programa The Voice Brasil e seu cliente têm em comum? Pense e responda para si mesmo.
Mas, antes de dar a resposta, preciso saber se você conhece a expressão “VUCA”. Veja bem, não é “MUVUCA”!
Muito bem, segundo o Wikipédia, “VUCA é um acrônimo – usado pela primeira vez em 1987 – para descrever ou refletir sobre a volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade (Volatility, Uncertainty, Complexity and Ambiguity) das condições e situações gerais; com base nas teorias de liderança de Warren Bennis e Burt Nanus”.
Cada vez mais vivemos num mundo volátil – mudanças constantes; incerto – dá para prever algo atualmente?; complexo – muitas exigências; e ambíguo – cantou Lulu Santos: “nada do que foi será do jeito que já foi um dia…”
Então, voltando à pergunta inicial: o que o Ayrton Senna, o programa The Voice Brasil e seu cliente têm em comum? A IMPREVISIBILIDADE! Vou explicar em três partes.
Parte 1 – Corra como o Ayrton Senna
Sou fã do Ayrton Senna e não perdia uma corrida de Fórmula 1 todos os domingos. A trágica morte dele em 1994 deixou um vazio enorme em mim. Perdia ali um grande ídolo não apenas das pistas de corrida, mas de estratégia de negócio.
O positivo disso, se é que se pode pensar assim, é que ele deixou um legado fantástico. Era uma pessoa determinada. Obstinado até! Entrava para ganhar. Altamente competitivo. Porém, sabia que nem tudo dependia dele:
– havia os outros pilotos – ah, o Alain Prost…
– havia o clima que poderia mudar a qualquer momento…
– havia o trabalho de sua equipe, seres humanos falíveis…
– havia o desgaste mecânico do carro e tantas outras coisas…
Apesar de toda essa imprevisibilidade, Ayrton Senna corria sabendo que, no que dependesse dele, ele seria sempre o grande Campeão.
Assim, aprendi com ele que, mesmo que as condições externas sejam, por vezes, desfavoráveis, faça seu melhor sempre. Dedique-se ao máximo. Seja persistente e até obstinado. Corra como o Ayrton Senna! Os resultados surgirão.
Parte 2 – O que aprendi no The Voice Brasil
Não sou de ficar grudado na TV assistindo programas do estilo “reality show”. Porém, como gosto muito de música (já cheguei até a aprender violão), de vez em quando assisto a alguns episódios do The Voice Brasil. Mesmo que não acompanhe a temporada toda, fico ligado no que está acontecendo.
O formato do programa é curioso. No início os candidatos são avaliados “criteriosamente” por técnicos, que nada mais são do que músicos famosos. Certamente entendem bastante de música e de show business. Portanto, estão aptos para compreender quais são as “melhores vozes” e performances entre todos os participantes.
Acontece que, em etapas mais adiantes, o público é quem passa a ter controle sobre quem vai prosseguir até a grande final. Ou seja, dane-se a tal técnica apurada, voz refinada, afinação, etc. O que vale dali em diante é a aclamação popular.
É aqui que surge novamente a tal imprevisibilidade. O público vota baseado na emoção (simpatia, beleza, carisma, etc.) e não na razão (técnica, timbre, afinação, etc.).
Assim, esse programa ensina que em meu trabalho não basta ter bom conteúdo ou técnicas e ferramentas apuradas. É preciso saber encantar! É necessário falar ao coração das pessoas.
Parte 3 – O cliente insatisfeito
Certa vez fui contratado por uma grande e tradicional empresa para realizar um treinamento sobre gestão do tempo e produtividade, onde iria trabalhar também aspectos de relacionamento interpessoal. O público era a equipe de auditores internos. Cerca de 25 pessoas.
Nunca havia feito trabalho para essa empresa, apesar de já ter conversado com o pessoal da área de RH diversas vezes. Para mim seria o primeiro de muitos trabalhos. Porém, não foi o que aconteceu!
No fechamento da proposta, a pessoa da área de Recursos Humanos passou as necessidades que o treinamento deveria atender. Preparei o material, o conteúdo, revisei as atividades que iria conduzir e tudo pronto.
No dia do treinamento fui muito bem recebido por todos, inclusive a profissional de RH, que ficou como observadora do meu trabalho.
Uma das características que haviam me passado é que este era um grupo “difícil”, com muita resistência para interagir e aceitar novas ideias. Já sabendo disso, preparei uma programação que fosse “quebrando o gelo” e eu pudesse ganhar a simpatia de todos. Consegui.
Durante os intervalos de café e almoço, me aproximava de alguns para ter um feedback sobre o curso. Inclusive do gestor da área, que também participava. Só recebi elogios. Isso me animou e o treinamento seguiu até seu final em grande estilo.
Aí aparece a imprevisibilidade. Fui conversar com minha contratante, a profissional de RH, todo animado com a repercussão positiva do curso frente aos participantes, incluindo o gestor da área e páh! Ela não gostou! Justo ela…
Disse que esperava mais. Que eu havia utilizado algumas atividades que ela já conhecia (os participantes não!). E assim, recebi o maior balde de água fria de minha vida de palestrante e treinador. Fiquei dias pensando em tudo. Não encontrei respostas plausíveis para o que ela me disse. Porém, ela era a contratante. Nunca mais realizei trabalhos para essa empresa.
O aprendizado aqui é sobre alinhamento de expectativas. Depois desse episódio, faço questão de conversar com meus requisitantes e comentar sobre vídeos, exercícios, atividades e até o conteúdo que vou apresentar. Com isso, já mudei muita palestra e treinamento adequando ao que meu cliente deseja e também esteja alinhado com minha experiência e propósito.
A lição foi dolorosa, mas serviu para perceber que cada vez mais o imprevisível é a realidade da vida.
Concluo com uma frase que desconheço o autor, mas resume todas as histórias acima: “não receie a imprevisibilidade da vida; é ela que torna cada dia uma verdadeira surpresa e as vitórias alcançadas ainda mais saborosas”.