Poder imposto é ilegítimo e não se sustenta

Poder. Para muitos de nós, a palavra evoca muitos sentimentos e associações negativas. “Desaprovamos os que estão no poder”, “quanto maior o poder, mais perigoso é o abuso” e “o poder é a fonte de todo o mal”. Estes são apenas alguns dizeres usados quando se trata de poder. E o que é poder? É a energia básica para iniciar e sustentar ações, traduzindo intenções em realidade, uma qualidade sem a qual os líderes não podem fazer com que as coisas sejam feitas.

Antigamente o poder era muito claro e imposto pela forma ditada no organograma, ditado pela força ou muitas vezes por questões de favorecimento, dinheiro, entre outros fatores. Porém, nos anos atuais, surgiram vários movimentos que fizeram com que esse poder, em meados do século 20, começasse a apresentar uma fragmentação. Cada vez mais ele se tornou transitório e difícil de manter.

Essa mudança ocorreu principalmente por conta da revolução Industrial 4.0, tema que o escritor Moisés Naím, soube compreender muito bem, escrevendo a respeito em seu livro O fim do poder (2013), da editora LeYa. Na obra, ele identificou três revoluções que fizeram com que essa fragmentação ocorresse, são elas:

  1. Revolução do MAIS: aumento e abundância em tudo – mais informação, alfabetização, saúde, longevidade, produtos, serviços, partidos políticos, entre outros.
  2. Revolução da mobilidade: movimentação de tudo que está no “MAIS” com uma intensidade inédita e com custos menores, chegando a todos os cantos de nosso planeta.
  3. Revolução da mentalidade: grandes mudanças nas expectativas, aspirações e modo de pensar e agir das pessoas. Vetar, contrapor, combater e limitar a margem de manobra dos “grandes atores de sempre”.

Esses movimentos, que começaram no fim do século 20 e início do 21, também atingiram as organizações, onde o poder desempenha um grande papel. Através da Governança Corporativa é possível organizar as inter-relações das partes dentro de uma organização com objetivo de fazer com que as coisas sejam executadas e caminhem em direção aos propósitos da empresa, de forma alinhada com sua missão, visão e valores. Ainda fazem parte da governança de uma empresa mecanismos como os conselhos de administração; áreas de compliance; auditoria interna, externa etc.

Mas qual o impacto dessas revoluções nas organizações? Existem alguns riscos. Com esse poder mais disperso todos têm poder suficiente para impedir iniciativas de outros, fazendo com que as decisões não sejam tomadas ou demorem demais, perdendo a eficácia e tendo a chance de reinar o caos. “Sem a previsibilidade e a estabilidade que vêm das regras de autoridade legítimas e amplamente aceitas pela sociedade, ou pela empresa, reinaria um caos que seria fonte de imenso sofrimento humano”, afirma Moisés Naím em seu livro.

Entretanto, essas mudanças, também abrem espaço para o exercício do Poder Genuíno, baseado na reputação e da confiança conquistados para influenciar os orientados em fazerem as coisas que devem ser feitas (ou não), de forma engajada e proativa. Poder genuíno é o poder que estamos vivendo, o poder do século 21. Ele nasce pela consistência de como fazemos nossas escolhas e tomamos nossas decisões, ou seja, de forma clara, consciente e obedecendo aos nossos valores e valores corporativos. Isso traz para o indivíduo reputação, o que o faz ser visto como uma pessoa confiável e, com isso, uma pessoa que gera influência sobre as outras pessoas. Esse é o empoderamento legítimo, aquele que emana de dentro de nós e que ninguém tira. Essa construção faz com que se exerça o verdadeiro poder, independente de força ou organograma.

O fato é que o poder tem um impacto real sobre quem o possui (e quem não o tem), e é cientificamente comprovado. Existe até um estudo da universidade de San Diego que mostra que o tom da voz muda quando a base de poder de alguém aumenta. O poder pode realmente afetar a essência de alguém. Então vem a pergunta: como conquistar o poder sem que sejamos enfraquecidos por ele?

A importância de praticar seus valores

Para começar é de extrema importância ter domínio sobre si mesmo, ou seja, buscar um alto grau de autoconhecimento. E como se faz isso? Buscando responder a perguntas feitas a você mesmo. Do que eu gosto? O que não tolero? O que faz meus olhos brilharem? Sim, se perguntando e se autoconhecendo cada vez melhor. A partir daí, praticando seus valores pessoais e corporativos e fazendo o alinhamento pleno entre a sua forma de pensar, falar, sentir e agir, é possível tomar decisões conscientes e bem posicionadas, o que gera confiança e poder de influência sobre as pessoas — características fundamentais de um líder.

Portanto, lembre-se: escolhas e decisões tomadas segundo nossos valores e valores corporativos, bem posicionadas, conscientes e com consistência, nos levam a ganhar reputação e nos tornam pessoas confiáveis. Este caminho nos permite influenciar positivamente aos outros para que as coisas sejam feitas (ou não). A cada decisão tomada, você amplia esta percepção e aumenta sua rede de relacionamentos, influenciando a mais pessoas, ampliando seu empoderamento em bases absolutamente legítimas, gerando um ciclo virtuoso e de enorme amplitude, – aquele poder que ninguém poderá te tirar — jamais!

* Uranio Bonoldi atua como professor em cursos de MBA na Fundação Dom Cabral, é palestrante e escritor. Na Fundação Dom Cabral ministra aulas para executivos sobre poder e tomada de decisão

Fonte: administradores.com.br

Posts Relacionados

Deixe um comentário