Impactos do digital nos hábitos de vida e trabalho dos nossos colaboradores

Que nada será como antes, a gente já sabe. Não é preciso se estender demais no assunto, mas quais os verdadeiros impactos da transformação digital, durante estes dias de pandemia, nos hábitos de vida e de trabalho das pessoas? Para responder a essa pergunta, a ABRH-SP realizou um webinar sobre o tema durante a Semana da Transformação Digital, que aconteceu em novembro do ano passado. Participaram das discussões Isabella Botelho, cofundadora da Pin People, Marcelo Nóbrega, mentor, conselheiro e investidor de HR Techs, e Rodolfo Ribeiro, fundador e CEO da startup 7Waves. Edna Bedani, diretora de Conhecimento e Aprendizado da ABRH-SP, foi a moderadora. Confira o conteúdo:

Dados sobre o trabalho remoto

Isabella destacou os primeiros resultados da pesquisa realizada pela Pin People assim que começou a pandemia, e que continua aberta, para que as empresas entendessem como estava a experiência dos colaboradores naquele momento de trabalho remoto. “No primeiro momento, a pesquisa teve um alcance de mais de 120 empresas participantes e cerca de 155 mil colaboradores de 14 países, o que resultou em mais de 3 milhões de dados falando sobre a experiência do trabalho remoto.”

Um dos principais insights foi o de que as pessoas gostaram da possibilidade de trabalhar remotamente. Principalmente em empresas que não ofereciam o formato de home office, a modalidade foi muito bem-vinda pelos colaboradores pela flexibilidade de poder trabalhar em casa. Entretanto, o apoio à modalidade começou a cair quando as pessoas passaram a entender as dificuldades do home office, como a falta de agilidade para acessar os sistemas da empresa e todas as ferramentas que estavam disponíveis no escritório, além da falta de itens de ergonomia – poucos eram os colaboradores que tinham uma cadeira mais confortável ou suporte de notebook.

A pesquisa também perguntou abertamente sobre a saúde emocional diante do momento de pandemia. “No início, as pessoas ainda estavam bem emocionalmente, mas a gente começou a ver uma queda. Na análise qualitativa dos comentários, apareceram questões como terem pegado Covid-19 ou perdido pessoas próximas, a falta do convívio social e a carga de trabalho excessiva”, exemplificou Isabella.

Por falar em carga de trabalho, ela apontou nos resultados da pesquisa a agilidade de muitas empresas que ouviram seus colaboradores, entenderam os pontos críticos e criaram ações rapidamente para evitar as jornadas muito extensas. “A gente viu também como o RH foi protagonista nesse momento, ao conseguir se destacar entre outras áreas de negócios. A área respondeu muito rápido às demandas de todo mundo ao pensar em soluções diferentes – por exemplo, o que funciona num ambiente físico e tradicional não iria funcionar para o online – e o RH teve que buscar outras ferramentas, propor novas ideias e novas formas de trabalhar a relação e a gestão do seu colaborador no dia a dia”, enfatizou Isabella.

Top objetivos dos trabalhadores brasileiros

Plataforma que trata do que as pessoas querem para a vida pessoal ou profissional, a 7Waves realizou estudos sobre as mudanças das ambições dos trabalhadores brasileiros para 2020 e para 2021. “A gente tinha como top objetivos dos trabalhadores brasileiros de empresas públicas ou privadas para 2020: quitar dívidas, viajar nas férias, aprender inglês, guardar dinheiro e praticar atividade física. Nos 100 primeiros dias da pandemia houve uma mudança para: guardar dinheiro, iniciar um curso de especialização profissional, emagrecer em média 7 quilos, assistir séries, que acabou virando um item de lazer compatível com o momento que as pessoas estavam vivendo, e praticar atividade física, que continuou em quinto lugar.”

As pesquisas também apontaram mudanças no âmbito da carreira. Um em cada cinco trabalhadores que queriam subir de cargo em 2020 postergou essa ambição para 2021. O desejo de ascensão de carreira, seja pelo contexto macroeconômico, seja da própria organização, foi jogado para a frente considerando as dificuldades do ano. Outro dado interessante: pela primeira vez, empreender subiu para primeiro lugar, seja para protagonizar um negócio como atividade principal ou ter o empreendedorismo como uma oportunidade de renda complementar.

RH direcionado a dados

Marcelo destacou a quantidade de dados apresentados pelos dois palestrantes e a quantidade de insights que poderiam ser obtidos a partir do conteúdo. “Como todas as diversas áreas da companhia, Recursos Humanos precisa ser direcionado a dados. A partir da Internet das Coisas, do armazenamento em nuvem e da Inteligência Artificial, a gente consegue ter essa riqueza de informações para tomar decisões. RH pode ser muito mais preciso nas suas ações, fazendo diagnósticos a partir dessa coleta de dados sobre o público interno da companhia e mesmo sobre coisas que estão acontecendo em volta, para se posicionar e ser um elemento estratégico dentro da empresa.”

Modelo híbrido no pós-pandemia

“O legal desse momento de pandemia, de ninguém saber ao certo como tudo funciona, é que as empresas estão aumentando a frequência de contato com os seus colaboradores e entendendo um pouco mais o que eles querem”, disse Isabella. “Qual vai ser o modelo do pós-pandemia? Pelo o que a gente vê dos nossos clientes, sim, o modelo híbrido é o da maior preferência de todos os colaboradores. Para algumas empresas, aparentemente é 50-50, outras 60-40, outras 80-20 e, recentemente, em duas grandes organizações, de segmentos diferentes, mais de 60% dos colaboradores disseram querer 100% de trabalho remoto. Esse dado chamou a nossa atenção e surpreendeu, inclusive, a própria organização.”

Para Isabella, o grande desafio dessas discussões é ter parte das pessoas trabalhando presencialmente no escritório e parte remotamente. Como vai ser a comunicação nessas circunstâncias? Ela falou ainda da importância do presencial: “O bacana de estar junto são os rituais, almoçar junto, tomar um cafezinho, é isso o que as pessoas querem. A gente vê um movimento muito grande de trazer um novo significado para a relação escritório e colaborador”.

Dificuldades para inovar em dias de distanciamento social

“A inovação é fruto do contato, nunca é oriunda de uma cabeça brilhante, mas sempre da junção de cabeças brilhantes que trocam ideias. É na conversa, no debate, no conflito que a inovação acontece”, destacou Rodolfo. Segundo ele, isso fica bastante comprometido no contexto digital. “A gente que trabalha com inovação no dia a dia sabe que fazer um brainstorm online é diferente de um presencial. O mesmo ocorre com o feedback. Estamos acostumados a lidar com a expressão corporal, o olho no olho, enfim… O presencial é um fator extremamente contributivo e fundamental para a inovação, mas, se tem risco para a vida das pessoas, tem que trabalhar com o que dá.”

Competências do futuro

Marcelo disse não saber quais serão as competências do futuro: “Se eu soubesse, elas não seriam do futuro, mas de agora, já estariam reveladas e a gente estaria se preparando para fazer e executar”. Para ele, essas competências sempre mudarão porque vão evoluir ao longo do tempo conforme o contexto do mundo e o que será necessário para nos tornarmos bem-sucedidos, mas com adaptabilidade e versatilidade sempre será possível lidar com a mudança.

Então, como se adaptar a situações diferentes e usar um repertório rico diante de situações novas e inéditas? “Tendo curiosidade para ter experiências diferenciadas ao longo da vida, que vão criando esse repertório. Você vai testando, errando, aprendendo, criando resiliência e apetite a risco, aumentando a complexidade e o tamanho do risco que está correndo e aí o ciclo vai rodando.”

Para ele, é preciso ter experiências diversificadas, trabalhar em empresas diferentes, de vários segmentos, em funções diversas, com equipes, produtos e serviços diferentes. Mudar de cidade, estudar em lugares diversos, viajar para fora do Brasil. “É essa experiência diversificada que cria a adaptabilidade e a flexibilidade para o futuro”, aconselhou.

Fonte: Assessoria de Comunicação ABRH-SP (08 de Fevereiro de 2021)

ABRH-SP

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