Use a competição no trabalho a seu favor e chegue mais longe

competição no trabalho

Tudo começou de forma inocente.

Eu estava conversando com uma amiga freelancer sobre seu portfólio e base de clientes. Depois de um pouco mais de conversa amigável, ela me perguntou se eu poderia apresentá-la a um editor do meu círculo profissional.

Fiquei chocada. É claro que eu queria ser solidária e ajudá-la — eu não sou uma pessoa ruim! Mas estaria mentindo se dissesse que não havia outra parte de mim que não queria cooperar.

Eu não deveria manter minhas demandas de trabalho em segredo, ao invés de entregar de bandeja para outros profissionais de redação?

Eu tive que conquistar meus contatos sozinha. Ela não deveria fazer o mesmo?

Pior ainda: e se o editor gostar mais do trabalho dela do que do meu e, de repente, eu perder minha fonte de demandas?

Vou ser sincera: escrever essas dúvidas já é um lembrete do quão absurda pode ser essa vozinha dentro da minha cabeça.

Mas, a verdade é que esse conflito interno acontece com os melhores profissionais. Nós queremos ajudar e encorajar os outros, mas frequentemente tememos que isso signifique um prejuízo às nossas próprias carreiras. Afinal, a competição no trabalho é boa ou ruim?

Colaboração ou competição no trabalho: o que é melhor?

Talvez esteja tentando dar desculpas a mim mesma, mas eu acho que essa vantagem competitiva é normal, principalmente se você considerar que a competição faz parte do mundo do trabalho.

Nós competimos com outros candidatos para conseguir uma vaga de trabalho, somos comparados a outros colegas para obter uma promoção e estamos constantemente tentando provar que merecemos prêmios e outros tipos de reconhecimento.

E a boa notícia é que a competição no trabalho não é tão ruim assim. Na verdade, ela pode servir como um impulsionador do seu crescimento profissional e da sua autoestima (contanto que você tenha certa moderação, o que é obviamente muito importante).

Um estudo conduzido com arqueiros profissionais revelou que aqueles que tinham um rival principal competindo no mesmo evento se saíram muito melhor do que aqueles que não tinham um competidor direto presente — algo que foi cunhado como “o efeito do rival.”

competitividade e produtividade

Além de aprimorar nossa performance, um certo nível de competição também dá uma empurradinha na nossa motivação e produtividade. Isso acontece porque ganhar ativa os centros de recompensa do nosso cérebro e essa dose de dopamina nos inspira a sair em busca de mais recompensa.

Então, apesar das conotações negativas, uma competição saudável faz bem para todo mundo. Na verdade, é quando a competição no trabalho é levada ao extremo que as coisas começam a ir por água abaixo.

Nós todos percebemos que pessoas que são excessivamente competitivas em suas carreiras podem ser vistas como pouco confiáveis e egocêntricas — só se preocupam com elas mesmas. No pior dos casos, elas vão passar por cima dos outros para chegar ao topo, o que leva a uma ausência de relacionamentos sólidos, má reputação e até a um ambiente de trabalho tóxico. Como um artigo da Business.com explica, um ambiente onde a competição no trabalho é extrema pode “impor uma necessidade de prejudicar uns aos outros em vez de estimular a colaboração e a resolução conjunta de problemas.”

Como manter a competição no trabalho (e a colaboração também)?

Bom, essa parece uma situação delicada, em que temos que pisar em ovos, não é mesmo?

Você precisa competir o suficiente para manter sua vantagem, mas não com tanta ambição a ponto de passar por cima dos demais. Você precisa ser prestativo, mas não ser um capacho. Determinado, mas não um rolo compressor.

Mas tenha certeza de que, por mais instável que isso pareça, é possível ter competição e também colaboração no trabalho em equipe. Aqui estão 3 estratégias que você pode usar para dominar esse equilíbrio.

1. Considere as outras pessoas como recursos valiosos

Quando você vê que alguém está alcançando grandes feitos ou se destacando em uma área, a sua primeira tendência pode ser entrar no clima de competição e usar o sucesso dessa pessoa como motivação para si mesmo.

Não há nada de errado com isso. Porém, há formas muito melhores de lidar com essas coisas. Em vez de se preparar para partir para cima dessas pessoas, porque você não aprende com elas ou aproveita suas habilidades?

Quer saber como elas conseguiram aquela palestra cobiçada? Leve-as para tomar um café e pergunte sobre o processo. As pessoas gostam de disseminar conhecimento.

Está com ciúmes porque eles lançaram o próprio negócio de design de produto? Você pode ficar com inveja ou usar as habilidades matadoras desses colegas para um próximo trabalho seu. Você apoia o negócio deles e ainda leva seus projetos a outro nível.

Mas, e se você e competição estão na mesma área ou cargo de trabalho? Será que é assim tão fácil? Ou será que trabalhar juntos nessas situações te faria vulnerável e eventualmente ser a sua derrocada?

A resposta pode lhe surpreender: colaborar com seus competidores diretos pode tornar todos ainda melhores no que fazem.

Em artigo para a Harvard Business Review, os autores Daniel Reynolds e Doug Meyer dão um exemplo interessante sobre o que aconteceu quando os Jacksonville Jaguars e os New England Patriots (duas equipes da NFL dentro da mesmo torneio) jogaram juntos durante os amistosos e treinos da pré-temporada de 2017.

Quando os dois times eventualmente se encontraram em uma partida em janeiro de 2018, obviamente, apenas um poderia vencer (e acabou sendo os Patriots). Mas, como resultado daquela competição, ambos os times se saíram melhor. Competitividade e produtividade andaram lado a lado.

“Os Jaguars perderam naquele 21 de janeiro? Sim. Mas eles foram muito melhor enquanto grupo do que no ano anterior, quando eles não só perderam as playoffs como ganharam apenas 3 jogos e perderam outros 13,” escreveu o autor do artigo.

“Após os treinos, os Patriots souberam respeitar os Jaguars e ficar de olho neles ao longo de toda a temporada — um aprendizado que certamente os concederia o Campeonato AFC muitos meses depois,” dizem.

Então, apesar de parecer no mínimo contraintuitivo, colaborar e contar com seus competidores mais ferrenhos pode trazer resultados positivos para ambos.

2. Celebre genuinamente o sucesso das outras pessoas

É difícil dizer que você tem solidariedade se está frequentemente ignorando e menosprezando as conquistas dos outros. Por mais que você queira evitar aqueles tapinhas nas costas obrigatórios para focar ainda mais nos seus próprios objetivos de carreira, participar dessas comemorações é a melhor coisa que você pode fazer.

competição no trabalho

Obviamente, isso ajuda muito a estabelecer essa reputação de pessoa solidária e colaborativa que você está tentando promover. Mas esse gesto vai muito além disso. Na verdade, é um ato egoísta ao mesmo tempo.

A dopamina, serotonina e oxitocina são condutores neuroquímicos responsáveis pela felicidade. Isso significa que um aumento na produção essas substâncias químicas do cérebro pode melhorar o seu humor.

Uma pesquisa mostrou que o ato de doar — e, sim, reconhecer uma vitória ou dar um merecido “parabéns!” definitivamente contam — aumenta a produção dessas substâncias que geram felicidade. Assim, você não apenas oferece seu apoio e faz alguns elogios, mas também absorve um pouco dessa alegria para si mesmo.

Isso está intimamente relacionado a um conceito chamado “empatia positiva.” Você provavelmente já ouviu falar que emoções negativas (como estresse, por exemplo) são contagiosas. Mas novas pesquisas provam que as emoções positivas também são.

“Além disso, esse tipo de felicidade contagiante pode ser uma ótima fonte de bem-estar. A tendência a experimentar empatia positiva está ligada a uma maior satisfação com a vida, paz de espírito e felicidade. Está também associada a maior confiança, apoio e satisfação em relacionamentos íntimos,” diz Kelly McGonigal, PhD, psicólogo e professor da Universidade de Stanford em artigo para o Greater Good Science Center, da UC Berkeley.

Sim, essa é sua permissão para pegar um pedaço do bolo da festinha e compartilhar com as pessoas que você sente está contente com o sucesso delas. Essa é uma das melhores formas de praticar a colaboração e ao mesmo tempo dar a si mesmo (e ao seu humor) um empurrãozinho na direção certa.

3. Não tenha vergonha de pedir algo quando necessário

Há uma armadilha muito comum na qual caímos: oferecemos ajuda quando outras pessoas precisam porque queremos ser colegas prestativos. Mas daí nós ficamos ali, sem voz e com raiva quando outras pessoas não se prontificam a retribuir o favor e oferecer uma mão amiga. Está na cara que todo mundo quer tirar vantagem da nossa bondade, não é mesmo?

Muita calma nessa hora. Alguma vez você realmente pediu ajuda quando precisou? Ou simplesmente presumiu que as pessoas iriam adivinhar suas dores e oferecer ajuda proativamente?

Muitos de nós somos resistentes em pedir ajuda. Enxergamos isso como um sinal de fraqueza, especialmente quando estamos em um ambiente onde já existe competição no trabalho.

“Há uma tendência de entende isso como uma deficiência,” diz Garret Keizer, autor de Help: The Original Human Dilemma, conforme publicado pelo The New York Times. “Isso é exacerbado se o negócio está em um ambiente que é altamente competitivo tanto por dentro quanto fora. Existe um medo compreensível de que se você baixar guarda vai se machucar, ou de que aquela informação que você não sabe será usada contra você.”

Há também um medo persistente de rejeição que nos impede de tentar pedir ajuda. No entanto, pesquisas mostram que subestimamos drasticamente o quanto as pessoas estão dispostas a ajudar. Em 3 estudos distintos, os participantes subestimaram em 50% a probabilidade de as pessoas concordarem em ajudar.

Talvez você possa se beneficiar de uma introdução a alguém de fora da sua rede de contatos ou de alguns bons conselhos sobre um problema complexo. Bom, para isso você precisa engolir esse orgulho e pedir explicitamente por esse tipo de assistência.

Isso vai lhe ajudar a abraçar a competição, obter as informações e os recursos de que precisa, mas também vai demonstrar um certo nível de solidariedade — já que você está provando que, obviamente, confia nos outros e valoriza suas opiniões e pensamentos. Todo mundo sai ganhando.

Encontrando o equilíbrio da competição saudável

Você quer chegar ao topo da sua própria carreira, mas isso significa passar a perna em quem também está construindo o próprio caminho? Definitivamente, não.

Eu sei, por experiência própria (aliás, no fim das contas eu apresentei minha amiga ao editor), que encontrar o equilíbrio entre “explorar” ou “ser um capacho” pode ser complicado às vezes — se você tem receio de ir para alguns desses extremos, isso é perfeitamente compreensível.

Felizmente, é mais do que possível cuidar da pessoa mais importante (sim, você!) ao mesmo tempo em que tem em mente os interesses das outras. As 3 estratégias acima devem lhe ajudar a manter a competição no trabalho, mas uma competição saudável, que lhe conduz ao topo sem ter que contar e pilha de “inimigos” que você deixou ao longo do caminho.


Traduzido e localizado com amor por Milena Lumini.

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Leia mais: Síndrome de Burnout: como superar das consequências do esgotamento físico e emocional no trabalho

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