Mercado de trabalho continua em movimento

Como temos publicado nas últimas edições, alguns setores continuam contratando mesmo em meio à pandemia do novo coronavírus. No início deste mês, o Glassdoor, plataforma que oferece recursos para mediar o processo de contratação das empresas, identificou 20 cargos com alta demanda com base no número de novas vagas publicadas na plataforma nas semanas anteriores.

Os números, segundo o Glassdoor, traduziam a elevada demanda por cargos ligados à área da saúde, como médicos, enfermeiros, farmacêuticos e técnicos de laboratório. Os setores de logística e comércio também apareciam na lista, bem como trabalhos que podem ser realizados de maneira remota, como atendimento ao cliente e telemarketing. Com diversas cidades cumprindo quarentena, também cresceu a demanda por entregadores e motoboys.

“O mercado de trabalho não está absolutamente parado porque é impossível uma economia parar totalmente. O que acontece é que alguns setores estão ativos, outros mais devagar e alguns realmente parados ou até demitindo, tudo ao mesmo tempo”, avalia José Augusto Minarelli, diretor-presidente da Lens & Minarelli, consultoria especializada em transição de carreira e outplacement de executivos.

Ele conta que, nos quarenta dias de quarentena, a consultoria completou seis recolocações: um diretor de hospital, um diretor comercial de crédito, dois gerentes de seguradoras, um gerente de transporte internacional e uma pessoa ligada a planejamento de mobilidade urbana. “Essas recolocações ocorreram não só porque os setores continuaram precisando, mas também porque os profissionais mantiveram-se ativos, utilizando networking, oferecendo-se como provedores de soluções, e isso permitiu que encontrassem empresas que precisavam deles.”

Na observação de Minarelli, há setores muito ativos em regiões mais distantes. É o caso do agronegócio, que permanece oferecendo alimentos para o mundo. Apesar de toda a confusão, as pessoas precisam comer, as importações e o transporte ocorrem, as funções aduaneiras, alfandegárias e comerciais continuam sendo feitas. Por outro lado, há setores que sofreram demais, como restaurantes, que têm casos de iminente risco de fechamento, hotéis, empresas de viagem e turismo, e empresas de eventos.

Profissionais estratégicos também têm oportunidades nesse período. “Recentemente”, confidencia Minarelli, “reunimos nossos assessorados com um headhunter e ele disse que na empresa dele não houve processos cancelados. Alguns foram congelados e aqueles destinados a funções estratégicas continuaram em funcionamento porque as organizações precisam dos profissionais com esse perfil, especialmente em momentos como este que exigem pessoas bem qualificadas acostumadas a lidar com crise, a descobrir caminhos, a inovar procedimentos e a buscar novos mercados. Esse headhunter disse que tem observado que seus colegas concorrentes continuam ativos.”

Certamente com todo o aprendizado que a crise trouxe, Minarelli aposta que, assim que a pandemia arrefecer, muitas atividades vão voltar de forma diferente. “As pessoas se acostumaram a trabalhar em home office, aprenderam a lidar com as plataformas de comunicação, perceberam que é viável resolver problemas a distância sem precisar viajar e tudo isso vai impactar no mercado de alguma forma.”

Trabalho temporário

Segundo a Asserttem – Associação Brasileira do Trabalho Temporário, a quarentena também tem ampliado a contratação de temporários em diversos setores. Os aspectos legais do trabalho temporário (Lei 6.019/74) garantem a flexibilidade contratual que o momento requer – vinculada à necessidade transitória ou emergencial da empresa – e com a devida proteção trabalhista, tanto para os setores essenciais quanto para os demais setores da economia.

“É um período de turbulências e incertezas. E o trabalho temporário tem ajudado a minimizar os impactos, como no setor da saúde, por exemplo. Por se tratar de uma modalidade flexível e uma opção de contratação formal, prevista em lei, o temporário atua como um recurso eficiente, dinâmico e seguro para empresas e trabalhadores, não só para atender a estas demandas emergenciais, como também a outras demandas transitórias, como cobertura de pessoal efetivo eventualmente afastado”, afirma a presidente da Asserttem, Michelle Karine.

O movimento de contratações temporárias está ocorrendo, especialmente, na prestação de serviço para as áreas da saúde, indústria de suprimentos, alimentos, supermercados e serviços essenciais. “Na área da saúde, a movimentação de contração é grande nas redes hospitalares para reforço do quadro de profissionais, como enfermeiros e técnicos de enfermagem, além dos serviços de manutenção, copa e recepção, por exemplo. Assim como a indústria de suprimentos também está ampliando seus quadros para atender à demanda de produtos, como EPIs (Equipamentos de Proteção Individual), álcool em gel e derivados”, cita Michelle. Outro setor com demanda de contratação é o de alimentação, como produção de alimentos, embalagens, supermercados, varejistas e atacadistas.

Fonte: O Estado de São Paulo, 26 de Abril de 2020.

ABRH-SP

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