O impacto do endividamento no trabalhador brasileiro

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O cenário econômico brasileiro ainda é nebuloso. Não bastassem os 62,8 milhões de consumidores inadimplentes, temos 13,4 milhões de desempregados, sem contar os desalentados, que já desistiram da busca. Um ciclo vicioso que se retroalimenta: a falta de emprego não gera renda suficiente para estimular a economia e o cenário carente de otimismo desestimula investimentos que geram emprego.

A queda na renda dificilmente é acompanhada de um corte de despesas na mesma proporção e as pessoas afetadas recorrem a empréstimos ou ao cartão de crédito para equacionar seu problema de fluxo de caixa, iniciando um tortuoso processo de superendividamento.

Tomar dinheiro emprestado do banco a curto prazo custa muito caro e o uso recorrente do rotativo do cartão ou das linhas de cheque especial é um sinal de descontrole financeiro ou imprudência, que fatalmente se transformarão em inadimplência, uma fonte segura de dor de cabeça aos implicados.

Com taxas de juros altas, o prazo médio dos empréstimos é bem mais curto que o normal. Ou seja, o brasileiro tem uma despesa financeira muito maior em um prazo muito menor que os cidadãos de outros países, que pagam menos pelo dinheiro e ainda conseguem alongar sua dívida. Essas circunstâncias, aliadas ao sufoco para fechar as contas no final do mês, afetam negativamente vários aspectos na vida do trabalhador e geram sérios efeitos colaterais à sua principal fonte de renda, o trabalho.

Imagine passar o mês sabendo que seu rendimento não será suficiente para cobrir suas despesas. A incessante fábrica de boletos não para de chegar, assim como as cobranças de débitos já em atraso. Avisos de que seu nome será ou já foi negativado passam a ser rotina e o medo de perder o emprego e amplificar essa crise pessoal consome seu estoque restante de preocupações. Inclua uma pitada de problemas particulares e terá um contexto completamente hostil à produtividade no trabalho.

Quando a saúde financeira do indivíduo vai mal, os resultados são sentidos diretamente no âmbito profissional, fonte de boa parte do dinheiro que movimenta a economia. Quanto mais aflito e ansioso, menor a eficiência do trabalhador. Muito se fala na baixa produtividade do brasileiro e corretamente esse problema é atribuído a diversos fatores estruturais, tributários, regulatórios e até culturais. Nunca se ponderou a influência do alto endividamento nessa equação. Mas, pela lógica, deve ter um peso razoável.

A democratização do acesso a linhas de crédito mais baratas é uma maneira de atenuar os problemas que afligem os endividados trabalhadores brasileiros. Trocar dívidas caras por outra mais palatável e adequar o valor das parcelas de modo a se ajustarem ao orçamento doméstico para resolver os problemas financeiros permitem que o foco individual seja direcionado ao trabalho, à carreira, à família. Cria-se então um ciclo virtuoso, saudável e mais produtivo para os funcionários, empresas, economia e, consequentemente, para a sociedade.

Por Victor Loyola, empresário com mais de 20 anos de experiência executiva no mercado financeiro e um dos sócios fundadores e coCEO da Consiga+

Fonte: O Estado de São Paulo, 11 de Agosto de 2019.

ABRH-SP

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